Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todas as poesias aqui presentes foram escritas por Mao Punk.

Visite também meu blog de textos: RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS .
Textos que expõem a fragilidade e indecência humanas de forma irônica, metafórica e sem embelezamentos.

domingo, 30 de dezembro de 2012

QUANDO A POESIA VOA ATRÁS DE UM PASSARINHO

Se eu pudesse saciar minhas vontades
Eu não sei dizer como começaria;
Se versando meu desejo em poesia
Ou poetizando o gosto de tuas partes.
                                          
Se eu pudesse saciar os meus desejos
Eu não saberia o meu primeiro passo;
Seria buscar conforto de teus braços
Ou perder a calma dentro de teus beijos?

No entanto nada me é permitido,
A não ser conter o que já está contido
E te desejar enquanto me controlo.

E se outro tem a sorte que não tenho,
Oh! Quisera eu, em todo meu empenho,
Poder ser a sorte que pousa em teu colo!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A POESIA DA VIDA

Se por acaso disserem
Que viver de versos é anular a vida,
Oh, quanta inocência!

Se porventura ousarem dizer
Que poeta não vive a realidade
E que, portanto, nunca viveu ou viverá de fato,
Tolos dizeres!

O que a mente de um poeta imagina
É exatamente aquilo que ele vive intimamente
E é exatamente a essência do que deveria ser viver.

Além disso, dizer que poeta não vive
Torna-se mil vezes mais falacioso
Quando sabemos que as escrituras,
Cada vez que são lidas,
São vividas mais e mais vezes!

E então encontramos o poeta
Vivendo e revivendo a todo instante,
Nos mais diversos olhares.

domingo, 16 de dezembro de 2012

COMPLEMENTO

Que algo ou alguém me bagunce, por favor!
Que algo ou alguém me revire!
Que algo ou alguém me tire desta segurança
E afaste qualquer fantasma antigo.
Que algo ou alguém seja meu novo pranto,
Meu novo medo de tudo,
Meu novo fantasma assombroso...
Que algo ou alguém me traga qualquer motivo
De desespero ou de tumulto.
E preciso disto porque a paz não nos basta.


FÓRMULA DO SUCESSO

Escreverei como qualquer poeta de sucesso
Que fala apenas sobre sua própria vida,
Embora eu creia que poeta algum fale apenas de sua própria vida,
Pois cada verso carrega um tanto de sentimento de milhares de pessoas.
Mas, como eu dizia, escreverei como qualquer poeta de sucesso.

Falarei apenas de coisas íntimas por demais
A ponto de quase ninguém se identificar com o que escrevo.
Falarei da chuva que não me molhou
E do carro passando rente à calçada, que fez o papel da chuva.
Falarei, aliás, de como ando rindo à toa
E de como pareço patético ao rir sem qualquer motivo palpável.

Direi ainda como é bom ser patético dessa forma.
E direi que está tudo nos conformes, mas que não quero que esteja.
Quero bagunçar os fatos, surtar na calma, cuspir nessa paz vazia.
Escreverei dessa forma porque eu quero e ponto.
Dessa forma, desse jeito, escreverei um poema pessoal,
Algo exatamente como este poema.

Escreverei como qualquer poeta de sucesso,
Desses que sempre foram derrotados por tristezas,
Por angústias, por tudo isso que não falta no mundo.
Escreverei como qualquer poeta de sucesso.
Assim como eles, serei apenas mais um poeta.
Assim como qualquer pessoa, serei apenas mais um poeta.
E assim, como poeta, transformo o nada na arte mais impecável.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O NINHO*

                                          * Poesia dedicada à Maiara Marks

Passo a passo,
Passarinho,
Faço verso
P’ra teu ninho.

Passo a pena, faço a cena
P’ra que a vida seja amena,
Menos pedra ou espinho,
Mais tranquilo é meu caminho

Se te escrevo,
Passarinho!
Faço verso
P’ra teu ninho.

Poesia, sê macia!
Aconchega a dor que havia!
Verso a verso, linha a linha,
Faze lar, oh, Poesia!

Vem chegando,
Passarinho!
Faço verso
P’ra teu ninho.

Faço, abraço, eu me enlaço,
Eu rabisco, escrevo, traço
Qualquer voo que desponte,
Qualquer rastro no horizonte,

P’ra que tu, oh,
Passarinho,
Tenhas verso
P’ra teu ninho!

P’ra que tenhas um abrigo
Contra as dores do perigo
De viver tão livremente,
De voar suavemente.

Quem me dera,
Passarinho,
Ver sorrisos
Em teu ninho!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

SÚBITOS NOVOS TEMPOS, LOCAL: MENTE

Meu pensamento distante de mim,
Meu peito apertado na São Joaquim.

Há um sentimento, não sei o que é,
Meu peito apertado na estação da Sé.

Saudades de coisas que já não sei mais,
Meu peito apertado na estação do Brás.

Passado e presente entrando em discórdia,
Meu peito apertado; Largo da Concórdia.

Eu sinto um desejo nascendo inocente,
Meu peito apertado na Rua Oriente.

E toma-me o peito uma louca vontade,
Meu peito apertado na Rua M. Andrade.

São mais sentimentos postos no papel,
Meu peito apertado; Princesa Isabel.

Eu sinto por dentro algo que me abrasa,
Meu peito apertado na porta de casa.

É meu coração permitindo outro rumo,
Meu peito apertado num tempo futuro.

Abrem-se portas e novas janelas,
Meu peito apertado na graça que é dela.

Um súbito encanto por ela surgido,
Meu peito apertado no jeito contido.

E tanta beleza me fez suspirar!
Meu peito apertado em seu caminhar.

Já não sei de mim; e dela, quem dera!
Meu peito apertado como numa espera.

Crio fantasias na minha emoção,
Meu peito apertado em minha ilusão.

Meu peito ora aqui, meu peito ora lá,
Meu peito apertado, mas onde estará?

O mundo tão vasto, mas não sei por que
Meu peito apertava onde estava você...



sábado, 1 de dezembro de 2012

SOBRE A LUA

Ela me falou da Lua,
Da Lua eu falei também.
Nem a noite mais escura
Tira o brilho que ela tem.

Ela outrora disse: “Veja:
Há motivos pra sorrir,
Veja a Lua, a sua beleza,
Sinta o bem que está por vir!”.

Eu sorri àquela Lua
E notei que ela, sim,
Era a paixão mais pura
E o amor crescendo em mim.

Eu versei o que sentia
E o céu, na ocasião,
Entregava a Lua viva
Na palma de sua mão.

Mas o céu tem tantos astros!
Um cometa que passou
Foi deixando aqui um rastro
E o meu amor levou.

Que saudades tenho dela!
Mesmo longe ela me diz:
“Olhe a Lua, como é bela!”.
E como me faz feliz

Saber que mesmo distante
Essa Lua que há no céu
Traz lembranças importantes
E mais versos no papel.



quarta-feira, 28 de novembro de 2012

SONETO DESEQUILIBRADO

Que contradição carregam minhas horas!
Vejo-me sorrindo. Os outros? Não os vi
Conseguindo a paz que agora consegui.
Penam pelo breu enquanto avisto aurora!

Intentara eu compartilhar o agora
Em cada sorriso desses que sorri.
A cada momento em que me ofereci
Vi muita alegria ser jogada fora.

O inverso igualmente ocorre: embora
Haja em mim sorriso, lembro que outrora
Não notei ninguém sofrer como sofri.

Eis a conclusão que tiro desta história:
Quando eu sorrio o mundo todo chora
E se me entristeço o mundo inteiro ri.


domingo, 25 de novembro de 2012

AVISO A TODAS AS PESSOAS QUE QUEREM CHORAR

Sorriam,
Meus olhos lhes querem gravados.

Sorriam,
Vocês estão sendo versados!

sábado, 24 de novembro de 2012

MEDO DE VIVER

Desinfeta!
Por aqui passou
Um poeta.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

ESTE CORAÇÃO CANSADO DA AMARGURA

Este coração, cansado da amargura,
Resolveu sangrar por si, não como antes
Que hora batia por paixão errante,
Hora martelava qual fosse tortura.

Sangra! Agora sangra com boa ventura,
Bate ritmado ao som reconfortante,
Brinda à alma o gozo deste novo instante,
Faz dentro do peito bem que não se apura.

É chegado o tempo de encontrar a cura,
Pois ela aparece para quem procura
E quem a procura encontra no semblante

Tantos novos risos! Largo a desventura.
A paixão sentida não mais me segura:
Devo ser de mim minha melhor amante!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

SONETO DE ADVERTÊNCIA

Não queiras ter nada com poetas
 – Que têm por demais verdade em tudo –,
Pois segredos, fossem antes mudos,
Serão como páginas abertas

A versar segredos dos amantes.
E, no mais, terás um desconforto
Quando leres os poemas outros
De paixões passadas relevantes.

Quando teu romance for findado
Há de o coração ser torturado
Ao reler os dedicados versos.

Portanto advirto: tem cuidado!
Só um peito muito apaixonado
Poderá arcar com este preço.

sábado, 17 de novembro de 2012

CONTRASTANTE

Nem todos sorriram. Fez breu.
A moça entristeceu,
O homem ressentiu,
O cão se coçou,
A gata no cio
Miou, miou, miou...

Nem todos sorriram. Choveu.
Aquela adoeceu,
Aquele enfartou,
Outro sucumbiu...
Esta não chorou?
Fingiu, fingiu, fingiu...

Nem todos sorriram. Doeu.
Houve quem sofreu,
Muitos se feriram,
Mas eu não sofri,
Nem todos sorriram,
Sorri, sorri, sorri!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

SONETO DE MEU CUIDADO

Dá adeus aos versos meus apaixonados,
Às declarações, aos gestos, aos ardores,
Dá adeus à carta, aos prantos e às flores
Que não poderão ser mais do que passado.

Dá adeus aos atos meus desesperados
Que nalguma parte ressentiam dores,
Dá adeus aos risos meus cheios de cores
Pintados pela ilusão do ingênuo fado.

Dá adeus ao peito que fora tomado
Por cruel paixão, depois dilacerado
Pelo mau destino, pelos dissabores...

Dá adeus que o coração despedaçado
Sempre amar-te-á, mas é de meu cuidado
Deixar a paixão partir, levar temores.


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

SONETO DE ASSASSINATO

Quero assassinar! Anseio a morte breve!
Tentei sufocar, mas quê! Jamais morria!
Quando a sufocava, mais se debatia.
Se retoma o ar, com mais força se atreve!

Quero assassinar a quem me mata aos poucos,
Mas não é aos poucos que espero que morra:
Eu quero matar como quem mata à forca,
Quero ser da história este nó no pescoço!

Ou ser como tiro que dera em meu peito,
Mas que meu disparo tenha outro efeito:
Seja ele vingança a esta vil trapaça!

Quero assassinar! Anseio sua morte,
Pois já não aguento a minha triste sorte.
Morra esta paixão, minha cruel desgraça!

domingo, 11 de novembro de 2012

SONETO DE AMOR PARA QUEM SE SABE AMADA

Reafirmo em versos meu amor sincero,
Em versos declaro esta minha ventura!
Este sentimento, alento de ternura,
É somente parte do bem que te quero!

E se escrevo em verso, faço-o por esmero,
Faço a intentar melhor de minha postura!
Tendo tua ausência, qual expressão pura
Poderá vingar da forma que eu espero?

E se te isentarem do que vocifero
Teus ouvidos, eis que o verso, talvez mero,
Há de ser a voz toando em boa altura

Que te amo tanto, Amor, de um jeito belo!
Que esta poesia seja como um elo
E que os olhos teus me sejam testemunhas!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

VOZES

Urrou a morte
Em meu ouvido;
No outro, a sorte
Deu um gemido.

Quem me dá norte?
Questão perdida!
Pesar da morte,
Tesão da vida...

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

NÃO CONFIES À PAIXÃO TUA HONRA

Não confies à paixão tua honra
Que será teu maior perjúrio!
O tratante Cupido, em murmúrio,
Debilita a razão e a assombra.

Aos sorrisos que o semblante espelha,
O Cupido te trama amarguras:
Crava flechas cheias de candura
E te dá cruelmente às abelhas.

Ora atacam-te as ferroadas,
Ora a dor advém das flechadas;
Deformara, a paixão, tua vida.

Se jurares a honra aos sentidos
Da paixão, estarás tão perdido
Que tal honra terás por perfídia.


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

TRÉGUA, ISABELLY

Isabelly, trégua! Trégua! Eu suplico!
Trégua, pois te quero! Quero sem consolo!
Quero tua trégua p'ra secar meu choro,
Tua mão na alma p'ra calar meu grito.

Trégua, Isabelly! Trégua, pois te quero!
Trégua, pois em vida te desejo em tudo.
E o que é a vida, Belly, se no mundo
Faltar tua presença, Belly? É desespero!

Isabelly, trégua! Trégua, pois te amo
E te quero tanto, Belly, que meu pranto
Há de afogar o que restou de mim.

Trégua, Isabelly! Trégua! Eu suplico!
Que este sentimento que é infinito,
Se não me der trégua, dar-me-á meu fim.


quarta-feira, 31 de outubro de 2012

SONETO DE FESTA

Ria-te! Caçoa-te pela agonia!
Zomba-te por todo pranto que hoje há.
Prepara-te logo para o que, quiçá,
Há de ser a mais horrenda poesia!

Brinda tu o afago desta heresia,
Taças cheias, fartas de lacrimejar.
Festa! Festa! Festa! Vem tu degustar
O sabor amargo, o estrago da azia!

Abandona o sonho tolo que fazia
O teu despertar sorrir com euforia.
É tempo de angústia. Vem tu festejar!

Não importa o riso q'antes se sorria,
Festeja tua dor qual fosse alegria,
Pois se não festejas, alguém o fará.


domingo, 21 de outubro de 2012

TENTE UM VERSO À TOA

Tente um verso à toa
P'ra que não seja em vão
O vão que atordoa.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

SONETO DE INTEMPÉRIE

Quando alguém me vir chorando, desolado,
Há de ser não mais que o próprio desespero,
Nada mais que aquele desconsolo extremo
Que há tempos fez-se em mim enraizado.

Quando alguém me vir chorando, arruinado,
Há de ser não mais que o peito corroendo,
Nada mais que a dor que há muito vem doendo
E que se fizera em meu tristonho fado.

Tão somente o pranto de um amargurado
Que não conseguiu jamais ser consolado,
Entregue à intempérie do que está vivendo.

Quando alguém me vir chorando, descuidado,
Que não haja espanto! Pois é meu legado
Deixar pelo ar meu rastro de tormento.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

POETEIRO

Sou "poeteiro", como se diz.
Sou do cinco contra um:
Minha mão e o lápis.
É o atrito indo e vindo
Que a mente induz.
Arte!

Sou "poeteiro" das noites solitárias
E das tardes inquietas também.
Sou "poeteiro" de mão cheia,
Cheia de ideias, no vai e vem...

Até suspiro,
Acabo comigo!
Esgoto-me ao toque
Do longo nos finos,

Do longo existir que a mim cabe o fado
Nos finos poemas que tenho ofertado.
Eu sou "poeteiro", daqueles ligeiros:
Se algo inspira, não perco o anseio.

"Poeteiro" vivo,
Estou submerso
No prazer do vício:
Eu gozo mil versos!


sábado, 13 de outubro de 2012

SONETO DOS AFLITOS

Tenho vontade de chorar minha sorte!
Carrego na alma o pranto dos aflitos,
Há no coração de dor milhões de gritos
E no que me resta uma porção de morte.

Há em meu sorriso angústia escondida,
Não que disfarçar me seja necessário,
Mas hei de ocultar lamúria, do contrário
Como intentar sentir a própria vida?

Entretanto, penso neste tolo esforço:
Que feitio terá agir a contragosto
Do que o coração sentir? É puro engano!

Dor tamanha esta a qual estou fadado
Hão de entender somente os desgraçados
Ou quem já amou da forma que te amo.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

SONETO DA CONTRADIÇÃO

Este respirar que traz vida ao instante,
Em contradição do que estou cá dizendo,
Sufoca-me o peito qual ar se perdendo...
Há algo no ar dos males dos amantes

Que comprime o peito, impede-me, diante
Da sorte dos fatos hoje acontecendo,
De sorrir qual antes eu sorria, vendo
Que não mais possuo a alegria d'antes.

Cada respirar é dor! E meu semblante
Fecha-se em presságio aterrorizante.
Nada remedia a dor que está doendo.

Esta desventura torna o ser errante.
Que contradição cruel, desconcertante:
Morro de amor enquanto estou vivendo!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A POESIA INESQUECÍVEL

Eu falhara! Posso eu estar isento
Desta culpa? Como posso ter vitória
Se a mácula é inata à minha história,
Se tal falha me persegue o pensamento?

Eu falhara! Intentara, em meu lamento,
Esquecer-te, em delírio inocente,
Mas se tento, mais tu vens à minha mente
E à mente mais tu vens quando não tento.

Cá estou, perdido em mim, neste momento,
E a esperança está perdida em desalento!
Por não te esquecer minh'alma fica assim.

Como posso me livrar do sentimento?
És presente em mim tal qual o ar ao vento
Que esquecer de ti é esquecer de mim.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A ROSA ENTRE A FUMAÇA

O que fazia a Rosa, solitária?
Eu me pergunto, céus! O que fazia?!
Que infeliz ventura ali jazia
Para brotar na estrada temerária?

Talvez brotara a Rosa, arbitrária,
Sem intentar velar o que morria.
Talvez anunciasse o que nascia!
Talvez calasse toda a sorte vária.

Por que brilhara ali de forma áurea?
Como explicar a Rosa não sumária
Feito a inefável condição que havia?

A Rosa ao cinza era tão contrária
E às condições da vida adversária
Que veio só florir a poesia!

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A POLÍTICA

Minha política é a poesia.
Não há partido a não ser a quebra das estrofes.
Não há reinado a não ser o das sensações.
Minha política está embasada em valores pouco habituais.
Está embasada em flores, em céus,
No café que porventura eu possa tomar,
Em uma cena cotidiana que se destaca,
Até mesmo no desvario de minha mente.

Minha política é somente a poesia.
A bandeira que carrego não tem forma,
Tem todas as cores, tem ousadia e sentimento.
Não precisa que a promovam.
Ela se propaga a cada olhar espantado,
Admirado ou até mesmo infonformado.
Não precisa conquistar confiança.
Ela já é a maior confidente.
Ela está em tudo, mas não é ditadora.
Ela é revolucionária, indomável, amorosa.

Minha política é tão somente a poesia.
Não há ídolos, mártires, profetas.
Há verso. E o verso é universal.
O verso é igualitário, contestador,
O verso é batalha e solidariedade.
Minha política é a poesia
E minha poesia é anarquista.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

SONETO DO AUTOPREITO

Hoje sou minha musa, presto a mim meu preito,
Trago aqui no peito versos carinhosos,
Deixo em minhas mãos meus préstimos formosos
E os mais vistosos que já foram feitos.

Hoje eu canto a vida mais do que os lamentos
E por fim adentro os tempos gloriosos.
Dos velhos sentidos antes tortuosos
Nem os tenebrosos prantos do tormento!

Fatos que trouxeram meu aviltamento
E deixaram à alma o descontentamento
De mil pensamentos tanto enganosos

Deixo enfim ao tempo. Ora meu preceito
Consta em permitir que todo sentimento
Seja poesia a agraciar meus olhos.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

E ENQUANTO A ALMA ESTÁ VENDADA...

- Olha aí! Tem um verso chegando!
- Diga-me onde! Não estou enxergando!
- Veja! Agora já tem outro vindo!
- Mostra-me onde que estou pedindo!

- Vieram aos montes naquela quadra!
- Ora, deixa de ideia furada!
- Não viste nada? Que teimosia!
  Agora os versos são poesia!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A POESIA DOS TEMPOS*

És tu a poesia que não passa,
És métrica impecável, verso e rima!
És obra que qualquer poeta estima
E quem tentar versar logo fracassa!

Fracassa, pois a língua é escassa,
Fadada a dissolver-se em ruínas,
Pois toda sorte de palavras finas
Jamais faria jus à tua graça.

Tentar versar-te é quase ameaça
E não importa a arte que se faça,
Se acaso ousar dizer-te, é assassina!

Pois mata de ofensas quando traça
Quaisquer cortejos, tudo se embaraça
Sem nunca traduzir tua valia.




*  3º Lugar no Prêmio Emílio Lansac Toha,
XX Concurso de Poesia e Prosa da Academia de Letras de São João da Boa Vista - Categoria: Poesia/Adulto

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

VERSOS COMPENSADOS

Augusto se fora com alguém...
"Vá c'os Anjos,
                        Mas volta que tenho saudade!"

Enquanto isso, porém,
Eu esbanjo
                 Um sorriso nos versos de Bocage.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

DIARIAMENTE

Não é preciso que todo dia
Se escreva uma poesia,

Mas a cada dia é preciso viver ao menos uma.
E viver poesia só é difícil
Quando tentamos vivê-la.
Do contrário, somos versos à sorte da criação,
Somos livros acontecendo, linhas livres, rimas em potencial.
Somos o tempo e poetas de nós mesmos.

Não é preciso que todo dia
Se escreva uma poesia,

Mas é preciso que a poesia
Se escreva a cada dia.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

SONETO DE (INOCENTE) EXPECTATIVA

Não sabes, Maíra, eu sorrira à vida!
Eu contrariara a sorte do destino.
Quem outrora vira o meu desatino
Não creria hoje em uma dor perdida.

"Mais dores virão!", a voz embrutecida
Censurar-me-á, mas eu a desafio:
"Há de me rogar mil dores, eu confio
Que haverá mais risos, em contrapartida."

Essa voz hostil é uma voz sofrida
A tentar impor à sorte oferecida
Qualquer aflição, mas dor já não preciso.

Minha sensação não pode ser contida!
Como hei de escutar a voz aborrecida
Se ainda há pouco vira teu sorriso?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

SONETO PARA O TEMPO EM QUE ABRAÇAVA MINHA AMADA

Ao lembrar a amada que eu nunca tivera,
Sinto comprimir o peito em desventura,
Pois não pode a boca relembrar doçura,
Nem tampouco o corpo, a lamentar quimera.

Faço testemunho triste do que passo:
Tendo a boca seca, sempre isenta ao beijo,
Nunca desfrutado o corpo que desejo,
Reclama minh'alma o toque de um abraço.

Antes o tivera! Chama-se saudade
Esta vil lamúria sem dó nem piedade!
Como libertar-me deste contratempo?

Meu pesar jamais será remediado:
Não se desapega de um tempo passado,
Pois todo o passado está preso no tempo.

sábado, 4 de agosto de 2012

SONETO DE PENAR

Escrevi um nada que não tinha causa,
Era coisa alguma sem qualquer motivo,
Um vazio imenso sem objetivo,
Um conjunto inútil de palavras rasas.

Escrevi à toa, sem que houvesse rumo,
Foram versos cegos, sem qualquer caminho,
Um poema tolo que se fez mesquinho,
Uma folha gasta sem cortejo ou prumo.

Escrevi por pena que de mim eu tive
E nesta aflição tamanha não contive
Este impulso triste de versar as dores.

Eis aqui o mote para a poesia:
Não encontro um quê sequer neste meu dia
Que dê esperança de novos amores.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

NÃO SUPORTO MAIS A CONDIÇÃO MEDONHA

Não suporto mais a condição medonha!
Tenho a alma livre e o peito encarcerado.
Tenho o coração batendo acorrentado
E se a alma é livre, é livre e tristonha!

De que vale a vida? A vida é enfadonha
Desde que meu peito fora confinado.
Desejara eu não ter me apaixonado,
Quisera matar o peito que te sonha!

Desejara mais – bem mais! – um outro jeito
De aliviar-me ao que estou sujeito,
De me libertar do que me é nocivo,

Mas estou rendido! E eis todo o defeito:
Já não bate mais por mim este meu peito:
Está preso a ti meu peito; e em ti eu vivo.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

SONETO PARA A AÇÃO DO TEMPO

O Tempo! Por certo é de sua natureza
Transmutar o todo em sua decorrência.
Assim, cada ser sofrerá a influência
Que o Tempo reserva com vil aspereza.

O grão que era grão germinou, fez-se vida,
E a vida gerada encontrou-se na morte,
Pois nada escapa das garras da sorte
Que o Tempo prepara em cruel despedida.

Tudo o Tempo leva: sorrisos, momentos,
Leva mil suspiros, leva sentimentos,
Este furacão que arranca o que bem for!

Tudo ele transforma, torna em outro quê,
Mas o amor que sinto o Tempo ousa manter,
Pois nem mesmo o Tempo me altera o amor!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

SONETO PARA A MORTALHA QUE TRAJAMOS

Eleva esta tua condição tristonha
Para o patamar de um riso que se valha.
Toda dor que hoje veste de mortalha
Já foi antes fantasia que se sonha.

Ora, se tal sonho morre, paciência!
Ponha-te a enterrar bem enterrado.
Seja adubo para um sonho não sonhado,
Seja o semear de nova inocência!

Assim sendo, enterrados sonho e peito,
Qualquer lágrima a cair terá efeito
De regar uma esperança valiosa.

E se a dor semeia novas alegrias,
Meu penar, meu fado, aceito em euforia:
A colheita que me aguarda é generosa!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

SONETO FUNESTO

Tempo oportuno para teu silêncio.
Haja, nesta instância, o luto e a dor,
Traja vestimentas tristes, negra cor:
Há de se enterrar este vazio extenso.

Prepara-te logo! Oh, lamento intenso!
Joga, com penar, o corpo de uma flor
Ao que sucumbira ao véu do dissabor...
“Aqui jaz um pranto sem dispor de lenço”.

Não morrera, enfim, o que está propenso
A durar, eterno. Eterno! Assim o penso,
Este sentimento, meu maior ardor!

Sentimento vive. Vive! Tão imenso
Que por si resiste, mas fugindo ao senso
Este é meu enterro, céus! Morri de amor!

sábado, 23 de junho de 2012

REGIMENTO POÉTICO

Criar poema que sustente
Meu ser, preserve meu momento.
Se me for dor, que venha a tempo;
Se dor não for, que me alimente.

Criar poema que sorria,
Sorria verdadeiramente!
Seja na dor, se for presente;
Se for ausente, na alegria.

E de poemas que se criam,
Nos meus lamentos que se afiam,
Faz-se o bem, por fim, crescente:

Eu crio vida enquanto verso!
E se alguém me achar disperso,
Deixai! O verso é meu regente.

terça-feira, 12 de junho de 2012

QUE A VIDA VALE A PENA NÃO DUVIDO

Que a vida vale a pena não duvido.
Que há sorrisos é, decerto, fato!
É como se o sorriso fosse inato
Às condições humanas do indivíduo.

E nasce o ser humano, a princípio,
Temendo a vida, em pranto inconsolado.
Mas age o tempo, o bem é revelado:
Descobre-se a alegria em estar vivo.

No entanto me é inversa a teoria!
Nasci para sorrir, alguém diria,
Para gozar da vida todo o encanto.

E ao crescer, em mim sequer insiste
Qualquer sorriso. A alegria existe,
Mas não a vejo. Eu descobri o pranto.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

SONETO DE ABRAÇAR A ILUSÃO

Vive tu o falso conforto de teu tempo,
Doa tu, ao sofrimento tão furtivo,
Teu momento que te ilude de estar vivo,
Tais segundos que disfarçam teu tormento.

Vive tu esta mentira adornada
De perfumes acres, desfolhadas flores.
Ria, enfim, à condição de teus amores
Como meta que assim fora alcançada.

Vive tu a intensidade que é possível,
Não há nada que não seja perecível!
Goza tu da ilusão que te afaga.

Aproveita que o tempo é corrido,
Amanhã será de fato mais sofrido:
Não te restará nem ilusão, nem nada!

terça-feira, 5 de junho de 2012

SONETO CRÔNICO

Repara tu, aqui, que desperdício errante!
Doar-se, peito e alma, à causa que, em suma,
Não haverá de ser senão nova tortura,
Perder tanto da vida em algo tão infante!

Infante, pois já mostra a que nos leva a história,
Tamanho sentimento assim por fim nos mata.
Matei-me, céus, matei-me! E a vida foi ingrata:
Não vi nenhuma flor jogada em minha memória!

E morto pelo acaso, morto, há lamento
Por descuidar de mim enquanto havia tempo,
Por ter doado mais de mim do que podia.

Já não há ilusão de encontrar bonança,
Morrera com meu peito o resto de esperança
E morrem mais sorrisos ao passar do dia.

domingo, 27 de maio de 2012

SONETO DE ENSAIO

Este amor que tenho, Amor, inda recluso,
Quer se confessar, Amor, em cada gesto,
Pois a todo tempo, Amor, mais eu me infesto
Deste sentimento, Amor, qual fosse abuso.

Mas eu desconheço, Amor, o melhor jeito
De dizer-te enfim, Amor, como te amo!
Quero que não haja, Amor, qualquer engano.
O amor que sinto, Amor, vem de meu peito!

E desconhecendo, Amor, minha confissão,
Vejo-me escrevendo, Amor, minha solidão,
Fico desejando, Amor, admitir

Que te amo tanto, Amor, que não sei mais
Como poderei, Amor, viver em paz
Sem dizer que amo, Amor, eu amo a ti!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

SONETO PARA ISOLAR O PEITO

Já parto. Agora parto, quiçá co’ atraso.
Se tu quiseres vir, favor, recua!
Recua que a dor é muita e a pena é dura
E é dura esta partida, em todo caso.

Recua, mas não da vida que a vida é arte,
Contraste de pranto e riso que perpetua.
Em meio a tal confusão, que haja ternura
Que faça valer a vida, mesmo que em parte.

Recua! Mas tu não sumas, senão padeço!
Que a todo este sentimento haverá um preço!
Eu parto – não de tua vida – do que vivi.

Embora seja a distância o maior suplício,
Sabendo que minha vivência tem novo início,
Amiga – tu que não tive –, não te esqueci!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

TROVA DA FORMALIDADE

E perguntam: "tudo bem?", um ato
De bons modos. No entanto, note,
Se respondem "tudo bem", é fato:
"Tudo bem" é exagero ou sorte!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

TROVINHA DE DISTRAÇÃO

Uns versos p'ra distrair
O tamanho de minha dor,
Mas se penso no porvir,
Ai! Mais versos, por favor!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

SONETO DE HOMICÍDIO

Quando nasce um novo dia, logo vejo
Que será um novo dia de minha morte.
Como posso eu ter esta triste sorte
De morrer mil vezes do mesmo desejo?

Cada morte vinda é dor que mais me dói,
Cada dor sentida é morte que mais peno!
Só pod’ria doer, sem nunca ser ameno,
Este sentimento que tanto corrói!

Oh, paixão! Inútil, tola, homicida!
Mata sem saber dar fim à minha vida,
Gaba-se ao mostrar ferida que me fez!

Adorar assim sem ser correspondido
É morrer mil vezes, tanto mais sofrido!
Clamo então ao peito: mata-me de vez!

quarta-feira, 2 de maio de 2012

SONETO DE ACEITAÇÃO

Há de descartar cada ínfimo sorriso
Tão logo lembrar a dor que perpetua.
Não vangloriar, portanto, a calma tua
Que há de se fugir no agouro, sem aviso.

Há de perceber o amargo a nosso encalço,
Aceitar-se-á que se respira a morte
E, qual zombeteira dor que toma o norte,
Cada riso dado é traiçoeiro e falso.

Há de aceitar cada lição da vida
E lançar o peito à mágoa ressentida
De quem solução alguma arranjara.

Tal vivência assim só pode ser sofrida!
A razão de minha dor é percebida:
Falta-me a paixão de quem me apaixonara!

terça-feira, 1 de maio de 2012

SONETO DE ABRAÇAR SAUDADE

Dos tempos passados me resta a saudade.
Nem glória, vitória ou troféu recebido.
Apenas saudade que trago comigo,
Somente meus versos chorando verdade.

Dos versos escritos me resta a vontade.
Nenhum dos desejos me foi concedido.
Suplico à vida e eu nada consigo.
Jamais este mundo me fez caridade!

Mas olho o passado qual preciosidade.
Havia momento de felicidade
Que então se revela um anseio perdido.

É quando recordo e um peso me invade,
Sorria ao destino com integridade:
Quão feliz eu fui quando estava iludido!

terça-feira, 10 de abril de 2012

SONETO DE DESCRENÇA

De que vale, céus!, alguém respirar flores,
Exalar na pele o cheiro de um romance?
De que vale em vida alguém ter ao alcance
Cada estrela altiva e o brilho de suas cores?

De que vale o verso averso a certas dores,
O poema escrito, o verbo e o instante?
De que vale a pena vinda dos amantes?
De que vale tanto suspirar e ardores?

Eu vos digo – o peito feito em dissabores –
Que de nada vale expressar amores
Quando gesto algum parece relevante.

Tudo fere, enjoa, tudo traz rancores,
Este mundo inteiro é feito de horrores,
Nenhum sentimento vivo é importante.

domingo, 8 de abril de 2012

PORQUE SOU POETA

Os beijos não dados
Têm gosto de festa
Em qual fui convidado,
Porque sou poeta!

Pranto derramado
A dor me aquieta
Quando relatado,
Porque sou poeta!

O que é desejado
Não é minha meta
Se não expressado,
Porque sou poeta!

E sou desgraçado
Na glória que flerta
Com dores e fados,
Porque sou poeta!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

MILAGRE ATEÍSTA

Como fosse pão, preciso de meus versos!
Eu não sou cristão, nem Cristo, mas vos digo:
Qual fosse milagre, os versos multiplico,
Não caminho n’água, voo em céu aberto!

Pois os meus poemas tais me santificam!
Sou meu milagreiro a recriar o mundo
E qualquer “inferno”, seja lá quão fundo,
Jamais queimará os versos que edificam.

Sou um deus se tenho uma folha em branco
E algum transtorno que me traga pranto.
Nada agora tem mais força do que eu!

É quando transformo a dor em alegria
Ao anunciá-la como poesia!
Existem milagres feitos por ateus.

terça-feira, 27 de março de 2012

DESAB/AR

Nuvens de pensamentos. Por fim,
Uma pergunta jogada ao léu:
Será que o céu desabou sobre mim
Ou fui eu que voei e cheguei ao céu?

terça-feira, 20 de março de 2012

MINHA AUSÊNCIA, ISABELLY

Oh, se tu soubesses, doce Isabelly,
Quanto esta atitude minha me condena!
Mas como curar a minha imensa pena
Sem que haja algum feitio que se apele?

Portanto recorro, frente ao desespero,
À ausência ingrata qual remédio incerto.
Pois se me aproximo, mais lhe quero perto;
Se lhe tenho longe, não me sinto inteiro.

Se me distancio é minha inocência,
Meu tolo recurso que implora clemência
Porque já não sei lidar com o que sinto.

Isabelly, saibas como corre o pranto!
Sinto-me tão tolo por me esconder tanto
Quando sei que és tu quem tanto necessito!

domingo, 18 de março de 2012

ÁGUA

Algo corrente,
Corrente que não prende.
Água que corre:
Poesia que me move!

quinta-feira, 8 de março de 2012

TRANSTORNO

Quanta fuga vã, céus!
Quanto céu em vão!
Pois se corro ao léu,
Voo em queda ao chão.

quarta-feira, 7 de março de 2012

QUEM DEIXOU EM MIM ESTE VAZIO QUE TRAGO?

Eis que a ironia, rude, inquietante,
Dá sua cara à mostra, cheia de gracejo:
Como me fiz cego por tanto que vejo!
Como tem tal peso o nada adiante!

Este desacato segue triunfante.
É indesejado este cruel desejo.
Como seca os lábios ao querer um beijo!
Como molha os olhos ao te ver distante!

E já não entendo quanto ao meu instante
Sou ou não culpado por este semblante
Qual tristeza feita à falta de ensejo.

Tu deixaste em mim este vazio cortante
Ou eu que deixei este querer frustrante
Fazer em meu peito vão que já não preencho?

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

SONETO DO PERDÃO

Tanta espera assim desfaleceu meus versos,
Pobres desarmados, quietos, reprimidos.
Será que calaram, foram tais vencidos
Por tamanha angústia que me fez disperso?

Ou, fiéis a mim, meus versos se calaram
Como amigo cala ao ver a dor de outro?
Ou me abandonaram, deixando-me solto?
Ou soltei-me eu dos versos que me amaram?

Nesse transcorrer do tempo impiedoso
Como esqueci – oh céus! – do maior gozo
Que a poesia tanto oferecera?

Curvo-me ao papel em ato de clemência,
Imploro perdão por minha tola ausência,
Entrego ao poema minha alma inteira.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

VERSOS LITORÂNEOS

Poema na areia
A maré sobe
O verso mareia

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

QUANDO DESÁGUO

Mundo bobo, risonho, à toa.
Olha lá fora a garoa!
Daqui a pouco é tempestade
E nem dá conta de metade
Da água que te cai do céu.
Eu, aqui no meu papel,
Confesso não ver graça
Dessa chuva que não passa.
Fico assim, na espreita,
Esperando o dia da colheita,
Vendo tudo ir por água abaixo!
Não tão abaixo de onde me acho.
Se é que me acho. O que digo?!
Sou homem tão perdido
Que nem correnteza me encontra
Para me levar à outra ponta
Desse oceano de amarguras
Que não sei onde se situa!
E que quando deságua, me molho...
Sinto a água sair de meus olhos.

sábado, 14 de janeiro de 2012

A CULPA POR MEU ESTADO, CAMILA...

Já não ando pleno e temo e desconfio
Que terço da culpa é de teus olhos sérios,
Estes que carregam tantos mil mistérios,
Tanto encanto que os meus não resistiram.

Outro terço sei que se fez culpa minha
Por me aventurar em teu olhar inteiro.
Hoje encontro em mim este insistente anseio
Que até em sonho, céus, ele me vinha!

O terço restante é igualmente nosso.
Oh! Tamanha culpa já não sei se posso!
Este terço tal me enche de desejo!

Já não ando pleno e temo e desconfio
Que todo este aperto é quase um desvario
Por querer, de novo, o toque de teu beijo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

TROVA TRISTE

Como estou? Pergunta ingrata!
Bem feliz, eu lhe diria.
Seria a resposta exata
Se não fosse tal mentira...

domingo, 8 de janeiro de 2012

DESPEDIDA ESTRANHA

Despedida estranha.
Ausento-me
e o peito não me acompanha...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

HORA DO SONO

Dores dormiram
Em sono tranquilo
No leito do beijo.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

SONETO QUAL DESABAFO SOBRE ISABELLY

Esta ausência sofrida, ingrata,
Este aperto, este quê reprimido,
A paixão que eu trago comigo,
Esta sorte que me desacata.

Artificio tal qual me destrata,
Ilusão de estar protegido.
E enquanto estou recolhido
O que sinto sufoca e me mata.

Se a vejo todo meu sentido
Me excede, já não tem abrigo,
O meu peito não suporta a carga.

Eu me afogo em meus próprios suspiros,
Já não sei se eu morro ou se vivo
Do desejo que nunca se apaga.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

JANELAS URBANAS

Janelas urbanas, paisagens de nada,
A desfalecer os olhares cativos.
No mais, uma dor e um cinza nativo
Do resto, do lixo, da turva estrada.

São mares profundos nos olhos de cada,
São luzes, fumaças, temor sem abrigo,
São mentes cerradas, janelas abrindo,
Perdidos poemas, vida inacabada.

Tão logo amanhece há tom agressivo,
Não faz germinar tanto pranto escorrido,
Não brota emoção de visões limitadas.

Janelas abertas! Quem vê teus sentidos
Avista na cena o voo incontido
Que vem das abelhas, das aves, das fadas!