Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todas as poesias aqui presentes foram escritas por Mao Punk.

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Textos que expõem a fragilidade e indecência humanas de forma irônica, metafórica e sem embelezamentos.

domingo, 17 de abril de 2016

ACEITAÇÃO

Eu me contentarei com meu melhor.
E meu melhor é ser um derrotado.
Minha virtude é ausência de vaidade,
E embora eu queira aquilo que não tenho,
Não tenho a pretensão de alcançá-lo.
Eu sei que jamais alcançarei.

Então eu emudeço e observo
A impotência em ser o que eu sou.
Encaro-me nos olhos, quero chorar.
Quero arrancar de minha frente
Este ser que incomoda os olhos,
Incomoda o respirar, incomoda o viver.
Mas nunca arranco.

Eu me contento em não me aceitar.
A aceitação é hipócrita.
Eu me contento em ser verdadeiro.
E a verdade está estampada no espelho,
Está esticada no colchão quando acordo
E está farta de tudo quando me deito.
A verdade está isolada, desolada, incomodada,
Amargurada, a verdade que sou!

Todas as belezas renunciaram meus cuidados.
Eu renunciei a ilusão. A beleza não existe.
Eu tenho uma bagagem cheia de verdades,
Cheia de vácuos espaçosos e pesados,
Cheia de absoluto pesar. Cheia de mim.
Eu não posso ter além do que me cabe.
E em mim só cabe eu e o vazio.
Eu me contentarei com o que me cabe.

Não há canções que falem sobre mim.
Algumas dizem sobre coisas que sinto,
E sentir nem sempre é viver.
As canções que sinto não são sobre mim.
Nada é sobre mim neste mundo triste,
Apenas meus versos, esses rejeitados!
E eu me contentarei com meus versos.

E esse é o melhor que eu consigo:
Estar a esmo e aceitar o fato.
Não quero discutir com meu destino,
Destino não existe, é antes sorte.
E contra a sorte que jamais eu tive
Não há de se ganhar jamais a causa.
Por fim, eu me contento em ser poeta.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

ERALDO

Difícil entrar no ônibus lotado
Já fatigado da amargura forte,
Lembrar das coisas que deixou no Norte
Que agora fazem parte do passado

E ver uma cidade castigada,
Clausura do trabalho ao domicílio.
As mãos nunca estendidas como auxílio,
Pois todas já estão muito ocupadas

Dispondo as duras pedras no caminho.
Eraldo imaginou estar sozinho
E quis desabafar sua triste sorte,

Mas ninguém dá ouvidos na cidade.
Lembrou de sua terra e deu saudade:
"Que falta faz quebrar coco no Norte!"