Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todas as poesias aqui presentes foram escritas por Mao Punk.

Visite também meu blog de textos: RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS .
Textos que expõem a fragilidade e indecência humanas de forma irônica, metafórica e sem embelezamentos.

sexta-feira, 29 de março de 2013

SEM ESCOLHA

Fosse escolha ser poeta,
Isso eu não seria, não!
Não aceito que o poeta
Seja assim por opção.

Ser poeta por escolha?
Que tamanha aberração!
Não se escolhe ser poeta,
Ser poeta é condição!



quarta-feira, 27 de março de 2013

POESIA INERTE

A
     I    N    É    R CIA
                                    age;
E o  poeta interage.

segunda-feira, 25 de março de 2013

ROMANCE URBANO DE DEZ MINUTOS EM LINGUAGEM POPULAR

Depois de tudo
O que vivemos,
Esse adeus
Sem mais nem menos!

O que vivemos,
Todo o romance,
Foi poesia
De dois amantes.

E então o adeus
De desenganos
Pouco depois
Que nos olhamos.

Rápido assim!
Pois essa história
Aconteceu
Na trajetória

Dessas pessoas
Num fim de tarde.
Foi no metrô
Desta cidade.

A estação
Era lotada,
A plataforma
Congestionada.

Foi nessa cena
Que nos olhamos
E o romance
Nós começamos.

E nesse encontro
De nosso olhar
O trem chegava
Para findar

Essa história.
Na ocasião
Nós dois entramos
Num só vagão.

Mas logo veio
A despedida.
Desci do trem,
Foi a partida.

E nunca mais
- triste mazela -
Eu viverei
Dos olhos dela.

Depois de tudo
O que vivemos,
Esse adeus
Sem mais nem menos!

sexta-feira, 15 de março de 2013

ESPELHO DA ANGÚSTIA

Aos amargurados como eu escrevo,
A quem desconhece a boa-venturança,
A quem já não acha em si a esperança
E não vê em si senão o desespero.

Que será de nós? Quem sorrirá primeiro?
Já não há em mim sequer a confiança!
Veio a tempestade, mas nunca a bonança!
E em seu lugar o incômodo certeiro.

A quem como eu doou-se por inteiro,
Mas não encontrou sorriso verdadeiro,
Sendo alvo das pedras que a vida lança,

Deixo meu poema sem nenhum conselho,
Pois é natural que o verso seja espelho
Desta angústia fria que nunca descansa!


terça-feira, 12 de março de 2013

COISA DE POETA

Coisa de poeta
Andar à busca da busca,
Olhar para o nada e para tudo,
Temer, encarar, suspirar,
Rabiscar qualquer coisa sem forma,
Sem motivo aparente
(Mas como poeta, bem sei que já existe motivo o bastante em escrever sem motivo).

Coisa de poeta
Achar que certas coisas de poeta parecem até fugir do que é poesia.
Mas o que é poesia senão exatamente essas coisas?

Coisa de poeta
Fazer da lembrança verso e pavor...
Acho que é isso.
E se assim for,
Hoje sou o melhor poeta do mundo!

segunda-feira, 11 de março de 2013

DA ESPERA PELO ALÍVIO DA MORTE OU QUALQUER SENSAÇÃO SEMELHANTE

Sinto que morrerei em breve.
Não literalmente, mas morrerei.
Talvez por ora seja só o medo.
Nunca sabemos o quanto podemos sofrer na morte
Até que a morte desponte.
O primeiro a morrer é o próprio medo.
O medo morre antes de nós.
Assim, consolados de que o fim é inevitável,
Não há mais morte qualquer que doa.

Sinto que morrerei em breve,
Como tantas outras vezes já morri.
E não haverá flor, dor ou festa,
Nem caixão, nem terra, nem confete.
Será a morte pura. Será o fim e ponto.
E do ponto despontará qualquer coisa,
Qualquer resto de existência,
Qualquer semente de qualquer natureza
Que um dia morrerá também.

domingo, 10 de março de 2013

TOTALIDADE

Chegará o dia
Em que nada chegará.
E nesse dia,
Sem nada esperar,
O dia será vivido.

sábado, 9 de março de 2013

SONETO DAS MORTES

Eu morri mais vezes do que deveria,
Já desperdicei de mim muito sentido
E nenhum sorriso que tenha sorrido
Fez valer as horas em que eu morria.

Todas estas vidas que assim perdia
Hoje preferia não as ter perdido,
Preferia nunca ter me iludido,
Evitar as mortes qu'eu próprio traria.

Mas trouxera a morte! A morte aparecia
Como se ela fosse o próprio dia-a-dia,
Quantas cem mil vezes me fiz falecido!

Mas ao lamentar as dores que sofria,
Surpreendentemente, aqui descobriria:
Outra vez morri! De novo fui vencido!


quarta-feira, 6 de março de 2013

MORTALHAS

Quando eu morrer,
Que cuspam em meu caixão,
Escarrem em cada fração
Do monstro que jaz ali.

Se merecer,
Que deixem depois a flor
E cubram com todo o amor
O exemplo que construí!

domingo, 3 de março de 2013

SONETO DA TROCA DE OLHARES

Quase de repente sinto um arrepio,
Nada que por ora tenha me afetado.
Era brisa nova em sopro agraciado
Ou fosse talvez um vendaval tardio.

Nisto não há nada que me seja hostil,
Não fosse o suspiro por mim suspirado,
Mas como conter o peito emocionado
Se por ele tenho condição servil?

Quase de repente sinto um arrepio,
O motivo justo do que se sentiu
Deixarei nos versos meus anunciado:

Como se apagasse a dor que me feriu,
Avistei os olhos teus! E assim sorriu
Meu olhar dentro do teu, realizado!