Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todas as poesias aqui presentes foram escritas por Mao Punk.

Visite também meu blog de textos: RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS .
Textos que expõem a fragilidade e indecência humanas de forma irônica, metafórica e sem embelezamentos.

domingo, 20 de dezembro de 2015

POESIA DE GUERRA E PAZ

Que se pondere quando a paz,
Que se pondere quando a guerra.
Quem fere a calma a culpa traz,
Quem dá o rosto ao bruto erra.

Quem nada faz frente ao que jaz
Também padece ao ser passivo;
Personifica o capataz
Quem sem razão é agressivo.

Que a paz não seja declarada
Enquanto nos faltar prudência
E a guerra nunca anunciada
Ao nos faltar a consciência,

Pois a batalha que é travada
Em despreparo e inocência
É como a paz que é ofertada
A quem por nós não tem clemência.



sábado, 28 de novembro de 2015

FORMA E FORMAÇÃO

Eu nasci pra ser poeta!
Profissão não é minha meta,
É apenas profissão.

Se terei ou não canudo,
Isso não define tudo.
Sou poeta em formação!


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O DIA DO DESAPEGO

No dia do desapego,
Nem rastro que os olhos deixam,
Nem pesos que o peito leva,
Nem mesmo um sorriso bobo
Que teima em aparecer,
Nem mesmo um suspiro avulso,
Nem dúvidas sobre os porquês,
Sequer as memórias boas
Dos tempos de ilusões,
Não haverá rádio alguma
Que possa fazer chorar,
Nem músicas selecionadas
Que falem sobre o que foi,
As ruas e seus caminhos
Serão só caminhos novos
E aquilo que se perdera
Jamais poderá voltar.
No dia do desapego,
Boa sorte com o que sentir.

domingo, 18 de outubro de 2015

DO VOO QUE É POSSÍVEL

Não ando bem,
Porque eu voo.
Não voo bem,
Porque eu finjo.
Não finjo bem,
Porque eu caio.
Não caio bem,
Porque resisto.

domingo, 13 de setembro de 2015

NO TEMPO DE SER EU

Eu, no tempo de ser eu, não sei quem fui.
Não sei bem se fui quem eu era ou não.
Eu sei que fui quem amei. Tanto amor!
Eu sei que fui quem me fez ser o que sou.
E o que sou nos tempos de ser eu?

Quem fui eu nos tempos em que estive ausente de mim?
Onde estive que não acho pistas, não me acho?
Em frente ao espelho não sei se me vejo,
Não sei se vejo somente o que se passou,
Não sei se também passei e fiquei para trás...

Decerto o tempo deixou-me ao passado
E da memória de muitas pessoas que já não me lembro quem são
Fui apagado. Também as apaguei.
E quem não apaguei da memória,
Quem não apaguei de dentro de mim,
De dentro desse ser sem ser ou sem saber o que se é,
Talvez esteja a me apagar. De dentro para fora.

Quem sou eu quando estou sozinho?
Quem sou eu quando as paixões me jogam à solidão de mim?
Quem sou-lidão?

E aqueles que não me esqueceram,
O que pensam que sou? O quanto sou do que pensam?
Eu, no tempo de ser eu, não sei quem fui.
Não sei quem sou. Não sei.
Não sei quem sou nos outros.
Não sei quanto deste ainda sou em mim mesmo.
Não sei se fui me deixando por onde passei
E já não se passa nada mais em mim.

E o que não passa permanece.
E o que permanece se nem sei o que restou?
E se não restou?
E se não restou, resta ser novo.
Resta ser quem não posso saber. Ainda.
Eu, no tempo de ser eu, atrevo-me.


sábado, 22 de agosto de 2015

SONETO MAL FEITO

Tudo entristeceu, o chão já não existe.
Cada riso agora encontra-se enterrado
Dentro do infinito ser atormentado
Que jamais pudera se sentir mais triste.

Foge-me o poema outrora esperançoso,
Falta-me o conforto antes conquistado,
Sobra-me um vazio em tudo confirmado
E um peito cheio de cruel desgosto.

Tenho ainda a vida a me trazer mais pranto,
Cada novo dia, um novo desencanto,
Como se acordasse sempre mais sofrido.

Perdido me encontro com meu sofrimento.
Mas que ironia traz meu desalento!
Só desta paixão não me sinto perdido.

domingo, 16 de agosto de 2015

DECISÃO

A vida:
- Decida!
O lugar:
- Aqui!
A hora:
- Agora!

O beijo:
- Entendi...

terça-feira, 28 de julho de 2015

SONETO DA FORÇA MAIOR

É infinita a força que se espera
De quem a vida fora desventura,
A quem os anos foram qual tortura
E os desejos não mais que quimera.

Quão grandioso aquele que definha
Às malogradas sucessões do acaso,
Mas que, capaz de dar um novo passo,
Consegue ultrapassar o fim da linha;

Que à amargura que nunca se aquieta
Pôde viver e tornar-se poeta
No sofrimento de sua triste sorte;

E que suporta o mal da agonia
E o desprazer de tê-la dia a dia.
Não há no mundo quem seja mais forte!

quinta-feira, 9 de julho de 2015

SONETO DO ÁPICE

Conforme o tempo passa, a mágoa fica.
A vida já é desesperançosa.
A amargura, a mim tão carinhosa,
Ao me beijar a alma me suplica

Que não a deixe nunca nesta vida.
E eu, fiel, jamais me esquivo dela.
Assim, todo penar em mim revela:
A amargura em mim é bem sentida!

E somos muito mais do que um beijo
Dos lábios das mulheres que desejo,
Pois nossa relação nunca termina.

Sou eu entregue a ela como amante!
Não há quem nos separe um só instante,
Pois temos um ao outro como sina.

terça-feira, 16 de junho de 2015

SONETO DO MELHOR SORRISO

O teu melhor sorriso guarda bem.
Ninguém além de ti tanto o merece.
E caso seja algo que se esquece,
Melhor que esqueças de sorrir também!

O riso necessita da alma em si,
De um peito a palpitar o sentimento.
E quem melhor terá o entendimento
De um riso dado se não quem o ri?

Portanto, ria àquele que puder,
Porém, não desperdices teu sorriso.
Que saibas perceber a quem sorrir.

E nunca dês o riso a um qualquer,
Que não te rias contra teu juízo,
E que o sorriso esteja a teu servir.

PONTOS DE ESTAR

Vi um sabiá 
cagar no parque.
Não sei se o parque ficou cagado
Ou se o cocô emparquezado.
Talvez eu tenha ficado sabiá.



O PESO DA GENTILEZA

                                       "Teus ombros suportam o mundo
                                        e ele não pesa mais que a mão de uma criança"

                                                                                                  Drummond


O ar do mundo pesa mais do que o mundo.
E menos do que o mundo pesa a gentileza.
Talvez deva ser assim mesmo.
É que a gentileza constitui-se de gestos leves.
Como pode a leveza parecer ter mais peso?
Mas não é peso que nos pressiona,
Nem tampouco peso morto.
É mais como se fosse o peso da coberta
Em dias frios, de vento forte.
Faltam-nos cobertas para dias frios!
Mas quando vejo alguém com um livro de poesias,
Penso que o mundo ainda tem jeito.


quinta-feira, 14 de maio de 2015

PORÉM NÃO RI

Voltou do nada.
Fez do que sinto
Uma piada.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Sem título. 08/05/2015

Saudade muda,
Saudade vaga:

Grito no vácuo
De tua ausência.   
O som não propaga!

segunda-feira, 4 de maio de 2015

SONETO PARA DIAS ÁRDUOS

Os dias não são fáceis, nunca foram!
São várias as batalhas e empecilhos,
São muitos os espinhos no caminho
E muitas as derrotas que se somam.

Bem sei o quanto dói quando sorrimos
E nós desconfiamos do que temos
E nem sequer momentos tão amenos
Nos dão a segurança em que sentimos.

Eu penso sobre o peso deste fardo.
Talvez não me seria tão pesado
Se houvesse o beijo teu que me afaga.

Os dias são difíceis e mais árduos
Quando a saudade em mim fala mais alto
E o peso da saudade é o que me esmaga.


domingo, 3 de maio de 2015

IMPORTÂNCIA QUALQUER

Devolva-me o sono
Ou qualquer coisa que possa.
Devolva-me o tempo
Em que fico na fossa.
Devolva-me o riso,
A razão, qualquer bosta,
Pois dói querer tanto
A quem não me gosta.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

DOIS EM UM

É tanto sentimento!
Temo o que virá depois.
Parti sentindo tanto
Que o que sinto dá pra dois.

Mas sou apenas um!
Assim suspiro: “Quem me dera
Se um dia ela surgisse
E exigisse a parte dela!”


quarta-feira, 29 de abril de 2015

ERICA

Engulo a seco o que me come vivo.
Não há motivo para o que me invade.
Há tanta mágoa para haver saudade!
Há tanta vida para eu ser cativo!

Quando decido não ser impulsivo
E refletir no que virá mais tarde,
Por não fazer tenho tranquilidade,
Mas por pensar tenho meu prejuízo,

Pois sendo o peito sempre tão esquivo
Do que a razão tem como regozijo,
Ouvir razão é quase crueldade:

O peito tanto aperta, compulsivo,
Que a razão perde seu próprio siso
E nem o verso traz serenidade.



sexta-feira, 24 de abril de 2015

CARTA AOS AMIGOS MAIS PRÓXIMOS

Amigos mais próximos
Que tanto amor me dão
E que tanto me fizeram aprender,
Que tanto me fizeram crescer,
Que tanto me mostraram que a vida,
Essa vida torta e cheia de dores,
Tem seu lado puro, seu lado bom,
Seu lado repleto de sorrisos verdadeiros,

Amigos mais próximos
Que tanto prezo e amo,
Parto agora para outro rumo.
Sim, é uma despedida,
Mas não um adeus!
Eu preciso de espaço para mim.
Eu preciso sentir que sou eu,
Preciso de mim sem vocês,
Preciso saber que existo também
Sem que alguém me sustente.
Eu preciso me sustentar
Pelo menos por um tempo,
Pelo menos por algum momento.
Eu preciso sentir que basto,
Eu preciso sentir que tenho a mim.

Amigos mais próximos
Que construíram fortalezas em mim,
Eu baixei a guarda e hoje sofro.
Esses muros já não me sustentam,
Tudo desabou. Fui eu quem baixou a guarda.
Obrigado pela construção,
Pelas desconstruções também,
Que só assim refiz ideias antiquadas.
Mas minhas fortalezas hoje são ruínas
E esse lugar arruinado já não me serve.
Eu preciso de novos ares,
Habitar espaços nunca habitados,
Espaços em mim, espaços na vida,
Espaços na minha estrada incerta.
Eu preciso seguir sozinho
E encontrar novos encontros,
Encontrar novos medos, novos impulsos,
Novas sensações que já não sinto mais...

Amigos mais próximos,
Serão sempre próximos, ainda que eu,
Nessa nova estrada, esteja distante.
E não sei por quanto tempo.
Não sei ao menos dizer se o tempo virá,
Mas é o tempo que eu preciso.
É o meu tempo, minha vida, minha decisão.
Se sentirem falta de mim,
Não procurem me encontrar frente a frente,
Não procurem me encontrar em diálogos,
Procurem-me nos versos,
Nos versos de cada coisa da vida,
Nas boas lembranças de cada momento,
Nos aprendizados que pude deixar,
Nas lições que puderem me ensinar,
Nos momentos em que eu não estiver presente,
Mas que estarei versando, de longe.


Hoje sou apenas meu próprio verso.
A poesia é tão livre, amigos, tão livre!
Não prendam poemas em livros fechados,
Não deixem que o verso não vá mais além.
Serei eterna obra a se concretizar.
Eu serei verso em outros olhares,
Em outros livros, em outros abraços.
Eu serei o que preciso ser, se assim for.

Amigos mais próximos, eu voltarei.

sábado, 18 de abril de 2015

DEFINITIVO

Nasci como se nasce qualquer coisa:
Sem consciência do que era, mas era.
E assim, sem consciência (hoje reflito e penso),
Eu era muito mais do que hoje sou.
Aos poucos fui crescendo como tudo:
Como cresce quem vive, como as flores,
Como a erva-daninha, como os matos,
Como as preocupações e como as dores.
Porque crescer talvez seja algo assim:
Cresce o corpo, cresce o espaço,
Cresce onde fincar cada lamento,
Cresce até lugar para desilusões.
Crescer é isso. Cresci. E cresço.

A infância ainda é terna, eu me lembro.
Eu lembro dos poucos amigos verdadeiros,
Das brincadeiras, dos jogos, dos desenhos,
Da falta de vaidade em qualquer coisa.
Pena que a infância envelhece.
E então paixões, e então canções,
E as reflexões sobre si próprio,
A amargura que se inicia,
A baixa autoestima que aparece,
A baixa autoestima que não passa...
Por uma vida inteira.

E vem a adolescência, os novos anseios,
Os brinquedos não existem mais.
O sentimento de poucos amigos
Que por algum motivo não te escutam
E quando escutam nunca compreendem.
E a folha em branco. E o lápis.
E a Poesia que se apresenta
(Será que foi o meu primeiro amor?).
E então as novas experiências:
O primeiro namoro, a inocência
De achar que existe amor onde não há,
De achar que era eterno o que não dura,
De achar que estava certo estando errado,
De errar profundamente sem dar conta,
De ser uma pessoa que não presta,
De não estar com quem se vale a pena,
De aprender que a vida é imprevisível.
E fim.

E fim para que o novo então comece.
E já maior de idade e mais liberto,
Foi quando as ruas me chamaram alto
E conheci o mundo de outra forma.
A ideologia foi fortalecendo,
O aprendizado foi se expandindo,
E socialmente, eu me desenvolvendo,
Fui aprendendo sobre as crueldades,
E foi crescendo a minha amargura
Que desde muito cedo me acompanha.
E mesmo tendo minha ideologia
E meus objetivos bem visados,
Não existia em mim expectativa,
E a felicidade não durava,
Era placebo para dias tristes.
E então novas paixões foram surgindo,
Novas decepções, novos fracassos,
Jamais um sentimento de sucesso.
Não fosse as amizades que surgiram,
A vida não seria coisa alguma.

E então surgiu no meio do caminho
Uma amizade que me foi magia
E que me fez olhar com novos olhos
Para este mesmo mundo em que jazia.
E já não me dizia ser tão triste,
Tristeza era momento que passava.
Mas minha amargura, já parceira,
Nunca deixou de me acompanhar.
No entanto, dei espaço para risos,
Para novos momentos, novas fases,
Novas felicidades bem concretas.

Sem que eu logo notasse, eu era adulto.
E fui continuando o meu ciclo:
Felicidade vem, depois se vai;
Tristeza surge forte, depois finda;
E novamente o riso, depois choro,
E tudo se repete o tempo todo.
Foi quando o meu peito, de repente,
De um jeito que jamais senti na vida,
Bateu mais forte e alterou meu rumo,
E nunca uma paixão se fez mais forte,
E nunca um amor se fez tão puro,
Mas nunca desfrutei de quem queria,
De quem eu tanto amo e ainda quero.

O tempo, o tempo todo, sempre o tempo,
O tempo que se passa, passa, passa,
Mas deixa, sempre deixa, sempre, sempre,
O gosto de derrotas mal curadas,
O gosto da vontade que não morre,
O gosto de sorrisos que se findam,
O gosto da amargura que não cura,
O gosto do momento que não fica,
Só fica o gosto acre que não some
E um corpo ainda vivo que não morre,
E enquanto ele não morre se lamenta,
E enquanto se lamenta ninguém ouve,
E quando ouvem, nunca compreendem,
E quando compreendem não se ajuda,
Porque não há ajuda p’ra poetas.

E vou morrer um dia como todos.
E enquanto isso, se voltar os versos,
De novo ler-se-á dores e risos.
É isso que meus dias me reservam,
Sem nunca me tirar a amargura.
Piedade eu não peço, não preciso.
Não tenham dó de mim, nem pena alguma.
Quem nasce como eu, às desventuras,
Nasceu para versar. O resto é resto.

Daqui nenhuma sorte me acena.
A amargura é nó que não desata.
E qual é o poeta que não pena?
Poeta que não sofre a arte mata.



quarta-feira, 15 de abril de 2015

Sem título - 15/04/2015

Talvez eu suma enquanto não estou calmo,
Mas que não me procurem meus amigos.
Não há sentido algum em buscar algo
Que se encontra distante dos sorrisos.



terça-feira, 14 de abril de 2015

CONFORME O TEMPO PASSA E A VIDA SEGUE

Conforme o tempo passa e a vida segue,
São menos os motivos por quais rio.
Talvez seja o meu curso, este desvio
Que a estrada faz e torna o riso breve.

Saudades tenho do que nunca tive.
Se tive algo, agora está distante.
E assim, a cada dia, a cada instante,
Torna-se raro um riso que se vive.

Que não me tenham pena, pois não quero,
Que dó não haja, porque não precisa,
E nem piedade do que aqui se passa.

Se há destino, é este o que espero.
Não há desgraça alguma que eu não viva;
Da dor, não há poema que eu não faça!




sexta-feira, 10 de abril de 2015

O QUE ME ARRANCARÁ DE MIM?

Por ora, não me aguento!
Sentir o que sinto e ser eu
É tormento.



domingo, 5 de abril de 2015

SONETO DO SORRISO ASSUSTADO

Como dizer do afeto que me assusta?
Como dizer da paz que foi sentida?
Como dizer do que nos faz a vida?
Como dizer do medo que me custa?

E tanto por não ter o que se diga,
Por tantas sensações que hoje rondam,
Por não saber sequer das que me assombram
E por lidar com outras que me abrigam,

É que me calo e meu olhar se turva,
E não sei reagir, nem dar conduta,
E mesmo assim o riso surge aberto.

Assim a vida segue a cada curva.
Na brevidade da incerteza mútua,
A noite reservou nós dois por perto.


sexta-feira, 3 de abril de 2015

NÁUSEA

Náusea.
Hoje é isso
Que o peito
Me causa.


terça-feira, 31 de março de 2015

SAUDADE ERRANTE

Saudade: ela aparece em nosso peito
- Ouvi dizer por este mundo afora -
Somente quando nosso pensamento
Nos traz feliz lembrança de outrora.

Porém, hoje a lembrança me castiga
E a tristeza é o que se revela.
Se eu levo essa dor que não mitiga,
Não sei por que sinto saudades dela!


segunda-feira, 30 de março de 2015

A VIDA ACORDOU

A vida acordou.
Ela percebeu que está acontecendo
E que não pode ficar dormindo
Enquanto passa.

Talvez eu seja a vida.


sexta-feira, 27 de março de 2015

SONETO PARA DAPHNE

O verso abriu espaço sabiamente,
O mesmo fez a estrofe emocionada.
E toda a poesia então versada
Estava a contemplar solenemente

Toda a beleza que ali brotava!
E o poema fez-se mais bonito.
E tudo que ali estava escrito
Como num passe mágico brilhava.

Mas se me perguntar como é possível
Que caiba tanto encanto – o que é incrível –
Em um simples soneto rabiscado,

Responderei que não me é espanto:
É porque verso todo o teu encanto;
E tudo que há teu nome é encantado!


terça-feira, 17 de março de 2015

POESIA GRITADA ÀS PAREDES

Eu te desejo. Além do que podia.
Eu te desejo muito tristemente.
Eu te desejo aos lábios novamente
E o teu corpo em minha poesia.

Eu te desejo em ato inconsequente
E contra o que a razão indicaria.
Desejo, contra minha alegria
E a favor da dor inconsciente.

Mas te desejo longe, pois eu sofro
Com teu desdém cruel que me entristece.
E meu desejo aumenta pouco a pouco.

Mas se a felicidade assim padece,
Por que meu coração não me obedece?
É só porque te quero como um louco!


sexta-feira, 13 de março de 2015

PEQUENA POESIA DOS OLHARES

Eu vi
Os seus olhos
Olharem
Pra mim.
Será
Que vi certo?
Será
Que é assim?
Ou será
Que apenas
Me retribuiu?
Mas vendo
Seus olhos,
Meu olhar
Sorriu.
Ou então
Eu penso
Que sonhei
Demais!
Se certo
Ou errado,
Meu olhar
Quer mais!

sábado, 7 de março de 2015

SER

Poeta, poetisa:
Nunca houve caminho certo.
Há poesia e há caminho.
O caminho nunca foi certo.

Degustará o pão mais amassado
Pelo diabo mais algoz.
Molhará o pão no café mais doce,
Mais quente, mais forte.
Pobre diabo, coitado!
Achou que o inferno seria o bastante.
Não sabia o que era ser poeta, ser poetisa.
Se soubesse, choraria
E nem sequer amassaria pão algum.

Mas ser poeta, ser poetisa,
É exatamente isso:
Fazer o diabo chorar,
Mastigar o pão amassado
E cuspir na cara do diabo.

Nunca houve caminho certo.
Tudo é dúvida, tudo é risco.
E todo risco é verso
Para o poeta, para a poetisa.
Caminho certo não vira poema.

Mas o poeta, a poetisa, sabem
- E sabem muito bem - que não há caminho errado
Para o qual valha retornar.
Há tanto caminho errado pela frente!
Há tanto verso pela frente!
Há tanta vida pela frente!

Poeta, poetisa:
Nunca houve caminho certo.
Há poesia e há caminho.
A poesia nos basta.


segunda-feira, 2 de março de 2015

PÁSSARO MORTO

Estou muito cansado deste fado!
Cansado do que a vida tem me feito,
Cansado de trazer dentro do peito
Qualquer estupidez de mau agrado.

Cansado de ceder-me por completo,
Cansado de mostrar meu sentimento,
Cansado de só ter o desalento
Como recebimento do que entrego.

Mas nada há de mudar em minha vida!
Quanto mais sinto, mais dói a ferida;
Quanto mais forte, mais desconsolado!

Já não espero ter nenhum conforto.
A esperança é um pássaro morto,
A minha sina é ser amargurado!


domingo, 1 de março de 2015

ABISMO

Em teus lábios um abismo.
Eu me jogo descuidado.
Minha queda logo veio:
Eu estou apaixonado!


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

SONETO DE RENOVAÇÃO

Acordo aflito. Assim são esses dias!
Eu tenho amanhecido atormentado.
Levanto sem saber de meu estado,
Tentando compreender minha agonia.

É uma angústia que eu não poderia
Imaginar rondando este meu fado.
Assim eu passo o dia agoniado,
Assim encaro a dura noite fria.

E tanto refleti sobre o que havia
Que ainda refletindo arriscaria
Dizer este palpite impressionado:

Se acordo e penso em ti dia após dia,
E passo o dia assim – quem negaria? –,
Eu desconfio estar apaixonado!


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

CHAMADO

Sentir que a vida é boa?
Nunca pude!
A vida não é algo a se exaltar.
Mas quanto mais a vida
Me ilude,
Mais sinto a resistência
A me chamar.


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

INALCANÇÁVEL

Nada além do de sempre,
Do nunca. Do tudo que se perde.
Nada além do encontro do que se perde
Com o que não há de ser, jamais.
Por quase três décadas o espelho nunca foi mágico

(Apenas Quintana me fez, por um momento, acreditar que sim.
E isso durou apenas enquanto o tempo era esquecido nas páginas.
E Isso retorna apenas quando as páginas me afastam do tempo).
O espelho nunca foi mágico, mas foi e é real.

Por quase três décadas, apenas reflexos de quase três décadas.
E o que vejo não condiz com tudo que posso querer.
O que eu quero é menos intenso que o reflexo de quase três décadas.
O que eu quero não consegue me alcançar, 
Pois que não sou eu que não consigo alcançar meus desejos, 
Mas meus desejos é que não me alcançam. Estou inalcançável!

Eu afasto. Sempre afastei. 
E talvez a poesia, o amor, a entrega, a angústia, a amargura,
Talvez essa porção de vida tenha intensificado a questão.
Eu afasto. Afasto mais do que nunca. 
Sei bem o que quero em meio ao não saber o que se pode querer.
Dizem ser muito arriscado lidar com a certeza do incerto.
Quanto a mim, tenho a mais incerta certeza de que nada sei,
Mas sei que estou certo em assim pensar, parece-me.

E por parecer, arrisco. E assim o faço por parecer com algo que o espelho me mostra,
Por parecer décadas clamando novas décadas. 
E parece-me que há marcado, em algum tempo e espaço,
O encontro feliz do que se perde com o que não há de ser, jamais.
Feliz, sim, por arriscar o que poucos tem coragem de tentar alcançar:
Ser inalcançável ao que não se precipita.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

POEMA TERMINAL

No céu, a Lua altiva iluminava.
Parece que se fez para nós dois.
A Lua nos olhava e admirava
E aguardava algo a vir depois.

Mas eu tomei a decisão ingrata,
E não cedi ao que o peito pediu.
Minha palavra ingênua estava dada,
Minha ingênua palavra me feriu.

E eu chorei minha cruel vontade
De estar ao lado teu e te sentir.
O que será que fiz, na realidade?
O que será de mim neste porvir?

Não sei o que fazer com meu desejo,
Nem sei como explicar o que ocorreu,
Mas sei que por não ver o nosso beijo
A Lua se apagou e amanheceu.


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

ANTIFIM

O fim nada mais é senão um tempo,
Um certo tempo dentro de outro tempo.
Mas tudo o que se finda é só momento.
O tempo vai, persiste o sentimento.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

INSULTO

Insulto
Eu me achar seguro
Em meio 
Ao tumulto.



sábado, 7 de fevereiro de 2015

A SEMEADURA DO ADEUS

Só por enquanto.
Depois, nem tanto.
O dia vira,
A vida ensina,
A sina segue.
O riso é breve.
Vem desapego,
Depois, sossego.

Não ria muito,
Pois não te escutam.
Não faça planos,
São só enganos.
Nos fatos dados,
Aprendizado.
Doar-se assim:
Inútil!
E fim.


terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

INAPETÊNCIA

Pensei demais
Na vida.
Sobrou comida.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

DESANDANÇA

Algo em nós dois desanda
E foge do que é o certo.
E isso me leva à sua boca,
E isso nos traz para perto.


INCOMPATÍVEIS

Não combinamos em nada.
Mas como são boas
As coisas não combinadas!


sábado, 31 de janeiro de 2015

TRAVESSIA

Sinta-me
Ou sinto muito.


segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

SOBRE BARCOS E MISTÉRIOS

“De onde veio o mundo?”,
Alguns indagam inquietos.
“E sobre o universo,
Como é que surgiu tudo?”,

“O sentido da vida?”,
“Aonde vamos todos?”,
“Surgiu primeiro o ovo
Ou antes a galinha?”.

Nada disso interessa,
Pois há outro mistério,
Um caso bem mais sério
A se sanar depressa.

Eu busco entendimento:
Quem é essa garota
Que ao beijar minha boca
Toma meu pensamento?


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

OBSTINAÇÃO

Não viva como quem aguarda risos,
Nem ria como se sorrir bastasse.
A vida é cruel em seu impasse,
E quem duvida logo perde o siso.

Não há felicidade que é eterna,
Nem mesmo bem-estar que não termine.
Não há sequer sorriso que sublime
E que não finde a alguma dor interna.

Viver é isso e nada além do exposto.
Viver é contratempo, é contragosto,
É dor que nunca há de ser vencida.

E quem se desespera por tal sorte,
Que possa aguardar por sua morte,
Porém eu me obstino à minha vida!


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

PARA VIVER

Querer viver
É para poucos.
É preciso considerar
Os sufocos,
Os quase ocultos
Risos bobos
E a incerteza
Do novo.
É preciso
Sangue frio
E alma
Para aquecer
O vazio.
É preciso,
Sem motivo,
Morrer a todo momento,
Abraçar o tormento,
Jogar ao vento,
Como em despedida,
A própria vida.


sábado, 17 de janeiro de 2015

CAIR

Cair,
Cair do céu,
Cair sem pressa.
Cair como quem plana,
Cair pleno.
Cair como quem voa
Em desespero
Para o céu infinito
De um chão belo.

Cair,
Como uma pluma,
Cair leve,
Cair como do céu
Se cai a neve,
Cair como uma estrela
Que ilumina.
Cair como se o chão
Ficasse acima.

Cair,
Cair macio,
Cair eterno.
Cair feito cair
Fosse minha meta.
Cair, pois quem não tomba
Não respira
E nunca poderia
Ser poeta.


segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

VERSOS DA INCERTEZA

Cuidado!
Poeta vivendo
É tiro dado.

Poeta:
Viver é um tiro,
Morrer é a meta.



sábado, 3 de janeiro de 2015

DUAS MORTES E UMA VIDA EM UM MOMENTO

Morreu um
Receio
Na morte
Do anseio:
Um beijo
Nasceu.