Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todas as poesias aqui presentes foram escritas por Mao Punk.

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Textos que expõem a fragilidade e indecência humanas de forma irônica, metafórica e sem embelezamentos.

domingo, 27 de setembro de 2020

SONETO PARA ANOITECER PASSADO

Sofrer a dor como se fosse afago,
Sentir o peso qual fosse uma pluma,
Deixar que cada corte n'alma nua
Me seja qual carícia em toque raro,

Pois não se cura o peito sem verdade,
Não se supera o luto sem tristeza,
Que desça de meus olhos correnteza,
Que afogue a ilusão da ingenuidade!

Que eu sofra o que tiver que ser sofrido,
Que o peito grite a dor e seja ouvido
Por esta mente tão atormentada!

Pois sei que sem a dor que hoje afeta
Não haveria a cura que desperta
Para seguir o Sol noutra alvorada.

domingo, 20 de setembro de 2020

DEIXA-ME VIVER EM PAZ MINHA TRISTEZA

Deixa-me viver em paz minha tristeza
Que a tristeza hoje é meu maior sentido,
Pois no amornecer do que venho vivido,
Foi meu sentimento de maior grandeza.

Deixa-me sentir a estranha natureza
De experimentar meu luto desmedido
A encostar no peito onde fui ferido
E por onde há pouco havia chama acesa.

Deixa-me na paz desta imensa certeza
De que a vida exige que haja frieza.
Deixa-me esfriar do que venho sofrido.

Deixa-me viver em paz minha tristeza,
Pois prefiro a dor repleta de clareza
Do que a ilusão de um riso não sorrido.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

POESIA PÓSTUMA IX

Saíra eu da escura cova que me abriga. 
Os olhos inda cheios duma fria terra,
E a putrefação funesta que me encerra
A corroer-me o resto da matéria fria.

O passo arrastado, o corpo que concerne
Ao moribundo ritmo dos passos dados,
Que tanto esforço faz sem nada alcançado,
Confunde-se afinal c'o rastejar de vermes.

Sou eu matéria morta que por inocência
Ousou sair da tumba por inconsequência,
Deixou o seu sepulcro num descuido tolo.

Pois volte, morto, volte à cova, sua essência!
Deixe que o silêncio seja a indulgência
A confortar o escuro breu do eterno sono.

sábado, 12 de setembro de 2020

POESIA QUASE ÓBVIA

O que é que do nada
Dá um calor no peito
E vem um riso bobo
No próximo momento
E um suspiro fundo
Soando envolvimento
E tudo que nos surge
Pulsando em pensamento
É o desejo vivo
De todo sentimento?
O que é que do nada
Nos traz súbito medo
E quando afastado
Traz pranto escorrendo
E um vazio estranho
Que vai acontecendo
Como se algo grande
Fosse então se perdendo?
Qual nome arriscaria?
O que isso seria?
Quantas vezes na vida
Algo assim surgiria?
O nome pouco importa
Quando isso nos acena.
De tudo o que sentimos
O que é que vale a pena?

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

SONETO À BORBOLETA

Roubara-me a frieza que havia,
Tomou-a despretensiosamente,
Pusera em seu lugar algo crescente
Que ainda hei de saber o que seria.

Deixara-me exposto à primazia
Das primaveras antes não presentes,
Florira meus jardins então ausentes
De cores tais, de finas alegrias.

Eu temo e desconheço, todavia,
A sensação que outrora não sentia,
Porém não há temor que não se enfrente,

Tal como a borboleta que escondia
Em seu casulo o medo, mas um dia
Saíra alçando voo livremente!