Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todas as poesias aqui presentes foram escritas por Mao Punk.

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Textos que expõem a fragilidade e indecência humanas de forma irônica, metafórica e sem embelezamentos.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

ERICA

Engulo a seco o que me come vivo.
Não há motivo para o que me invade.
Há tanta mágoa para haver saudade!
Há tanta vida para eu ser cativo!

Quando decido não ser impulsivo
E refletir no que virá mais tarde,
Por não fazer tenho tranquilidade,
Mas por pensar tenho meu prejuízo,

Pois sendo o peito sempre tão esquivo
Do que a razão tem como regozijo,
Ouvir razão é quase crueldade:

O peito tanto aperta, compulsivo,
Que a razão perde seu próprio siso
E nem o verso traz serenidade.



sexta-feira, 24 de abril de 2015

CARTA AOS AMIGOS MAIS PRÓXIMOS

Amigos mais próximos
Que tanto amor me dão
E que tanto me fizeram aprender,
Que tanto me fizeram crescer,
Que tanto me mostraram que a vida,
Essa vida torta e cheia de dores,
Tem seu lado puro, seu lado bom,
Seu lado repleto de sorrisos verdadeiros,

Amigos mais próximos
Que tanto prezo e amo,
Parto agora para outro rumo.
Sim, é uma despedida,
Mas não um adeus!
Eu preciso de espaço para mim.
Eu preciso sentir que sou eu,
Preciso de mim sem vocês,
Preciso saber que existo também
Sem que alguém me sustente.
Eu preciso me sustentar
Pelo menos por um tempo,
Pelo menos por algum momento.
Eu preciso sentir que basto,
Eu preciso sentir que tenho a mim.

Amigos mais próximos
Que construíram fortalezas em mim,
Eu baixei a guarda e hoje sofro.
Esses muros já não me sustentam,
Tudo desabou. Fui eu quem baixou a guarda.
Obrigado pela construção,
Pelas desconstruções também,
Que só assim refiz ideias antiquadas.
Mas minhas fortalezas hoje são ruínas
E esse lugar arruinado já não me serve.
Eu preciso de novos ares,
Habitar espaços nunca habitados,
Espaços em mim, espaços na vida,
Espaços na minha estrada incerta.
Eu preciso seguir sozinho
E encontrar novos encontros,
Encontrar novos medos, novos impulsos,
Novas sensações que já não sinto mais...

Amigos mais próximos,
Serão sempre próximos, ainda que eu,
Nessa nova estrada, esteja distante.
E não sei por quanto tempo.
Não sei ao menos dizer se o tempo virá,
Mas é o tempo que eu preciso.
É o meu tempo, minha vida, minha decisão.
Se sentirem falta de mim,
Não procurem me encontrar frente a frente,
Não procurem me encontrar em diálogos,
Procurem-me nos versos,
Nos versos de cada coisa da vida,
Nas boas lembranças de cada momento,
Nos aprendizados que pude deixar,
Nas lições que puderem me ensinar,
Nos momentos em que eu não estiver presente,
Mas que estarei versando, de longe.


Hoje sou apenas meu próprio verso.
A poesia é tão livre, amigos, tão livre!
Não prendam poemas em livros fechados,
Não deixem que o verso não vá mais além.
Serei eterna obra a se concretizar.
Eu serei verso em outros olhares,
Em outros livros, em outros abraços.
Eu serei o que preciso ser, se assim for.

Amigos mais próximos, eu voltarei.

sábado, 18 de abril de 2015

DEFINITIVO

Nasci como se nasce qualquer coisa:
Sem consciência do que era, mas era.
E assim, sem consciência (hoje reflito e penso),
Eu era muito mais do que hoje sou.
Aos poucos fui crescendo como tudo:
Como cresce quem vive, como as flores,
Como a erva-daninha, como os matos,
Como as preocupações e como as dores.
Porque crescer talvez seja algo assim:
Cresce o corpo, cresce o espaço,
Cresce onde fincar cada lamento,
Cresce até lugar para desilusões.
Crescer é isso. Cresci. E cresço.

A infância ainda é terna, eu me lembro.
Eu lembro dos poucos amigos verdadeiros,
Das brincadeiras, dos jogos, dos desenhos,
Da falta de vaidade em qualquer coisa.
Pena que a infância envelhece.
E então paixões, e então canções,
E as reflexões sobre si próprio,
A amargura que se inicia,
A baixa autoestima que aparece,
A baixa autoestima que não passa...
Por uma vida inteira.

E vem a adolescência, os novos anseios,
Os brinquedos não existem mais.
O sentimento de poucos amigos
Que por algum motivo não te escutam
E quando escutam nunca compreendem.
E a folha em branco. E o lápis.
E a Poesia que se apresenta
(Será que foi o meu primeiro amor?).
E então as novas experiências:
O primeiro namoro, a inocência
De achar que existe amor onde não há,
De achar que era eterno o que não dura,
De achar que estava certo estando errado,
De errar profundamente sem dar conta,
De ser uma pessoa que não presta,
De não estar com quem se vale a pena,
De aprender que a vida é imprevisível.
E fim.

E fim para que o novo então comece.
E já maior de idade e mais liberto,
Foi quando as ruas me chamaram alto
E conheci o mundo de outra forma.
A ideologia foi fortalecendo,
O aprendizado foi se expandindo,
E socialmente, eu me desenvolvendo,
Fui aprendendo sobre as crueldades,
E foi crescendo a minha amargura
Que desde muito cedo me acompanha.
E mesmo tendo minha ideologia
E meus objetivos bem visados,
Não existia em mim expectativa,
E a felicidade não durava,
Era placebo para dias tristes.
E então novas paixões foram surgindo,
Novas decepções, novos fracassos,
Jamais um sentimento de sucesso.
Não fosse as amizades que surgiram,
A vida não seria coisa alguma.

E então surgiu no meio do caminho
Uma amizade que me foi magia
E que me fez olhar com novos olhos
Para este mesmo mundo em que jazia.
E já não me dizia ser tão triste,
Tristeza era momento que passava.
Mas minha amargura, já parceira,
Nunca deixou de me acompanhar.
No entanto, dei espaço para risos,
Para novos momentos, novas fases,
Novas felicidades bem concretas.

Sem que eu logo notasse, eu era adulto.
E fui continuando o meu ciclo:
Felicidade vem, depois se vai;
Tristeza surge forte, depois finda;
E novamente o riso, depois choro,
E tudo se repete o tempo todo.
Foi quando o meu peito, de repente,
De um jeito que jamais senti na vida,
Bateu mais forte e alterou meu rumo,
E nunca uma paixão se fez mais forte,
E nunca um amor se fez tão puro,
Mas nunca desfrutei de quem queria,
De quem eu tanto amo e ainda quero.

O tempo, o tempo todo, sempre o tempo,
O tempo que se passa, passa, passa,
Mas deixa, sempre deixa, sempre, sempre,
O gosto de derrotas mal curadas,
O gosto da vontade que não morre,
O gosto de sorrisos que se findam,
O gosto da amargura que não cura,
O gosto do momento que não fica,
Só fica o gosto acre que não some
E um corpo ainda vivo que não morre,
E enquanto ele não morre se lamenta,
E enquanto se lamenta ninguém ouve,
E quando ouvem, nunca compreendem,
E quando compreendem não se ajuda,
Porque não há ajuda p’ra poetas.

E vou morrer um dia como todos.
E enquanto isso, se voltar os versos,
De novo ler-se-á dores e risos.
É isso que meus dias me reservam,
Sem nunca me tirar a amargura.
Piedade eu não peço, não preciso.
Não tenham dó de mim, nem pena alguma.
Quem nasce como eu, às desventuras,
Nasceu para versar. O resto é resto.

Daqui nenhuma sorte me acena.
A amargura é nó que não desata.
E qual é o poeta que não pena?
Poeta que não sofre a arte mata.



quarta-feira, 15 de abril de 2015

Sem título - 15/04/2015

Talvez eu suma enquanto não estou calmo,
Mas que não me procurem meus amigos.
Não há sentido algum em buscar algo
Que se encontra distante dos sorrisos.



terça-feira, 14 de abril de 2015

CONFORME O TEMPO PASSA E A VIDA SEGUE

Conforme o tempo passa e a vida segue,
São menos os motivos por quais rio.
Talvez seja o meu curso, este desvio
Que a estrada faz e torna o riso breve.

Saudades tenho do que nunca tive.
Se tive algo, agora está distante.
E assim, a cada dia, a cada instante,
Torna-se raro um riso que se vive.

Que não me tenham pena, pois não quero,
Que dó não haja, porque não precisa,
E nem piedade do que aqui se passa.

Se há destino, é este o que espero.
Não há desgraça alguma que eu não viva;
Da dor, não há poema que eu não faça!




sexta-feira, 10 de abril de 2015

O QUE ME ARRANCARÁ DE MIM?

Por ora, não me aguento!
Sentir o que sinto e ser eu
É tormento.



domingo, 5 de abril de 2015

SONETO DO SORRISO ASSUSTADO

Como dizer do afeto que me assusta?
Como dizer da paz que foi sentida?
Como dizer do que nos faz a vida?
Como dizer do medo que me custa?

E tanto por não ter o que se diga,
Por tantas sensações que hoje rondam,
Por não saber sequer das que me assombram
E por lidar com outras que me abrigam,

É que me calo e meu olhar se turva,
E não sei reagir, nem dar conduta,
E mesmo assim o riso surge aberto.

Assim a vida segue a cada curva.
Na brevidade da incerteza mútua,
A noite reservou nós dois por perto.


sexta-feira, 3 de abril de 2015

NÁUSEA

Náusea.
Hoje é isso
Que o peito
Me causa.