Do topo caiu o cuspe.
Do branco topo choveu ofensas.
Do humano topo caiu o mundo
No abismo imundo de suas crenças.
Alguém no topo escutou um ruído.
Parecia vir de lá de baixo. “Não é nada, voltemos a dormir.” E o ruído não
parou. Nem um instante sequer. “Maldição! Parem com esse barulho inútil!” Ah, o
sono era ameno! A cama macia, o lençol lavado! Lavado como? Esse cheiro, eu
conheço? Essa cor de...
Do topo não se vê nada.
Do rico topo tudo é pequeno.
Do alto topo não se vê gente,
Tudo é contente, tudo é ameno!
Amanheceu o dia, mas ainda era
madrugada. Chovia, como sempre. Mas com a chuva matava-se, ingenuamente, a
sede. A chuva construía a base. Pilar tempestuoso. E o guarda-chuva enferrujado nem sequer
salvava o corpo. E para quê? Parecia tudo tão normal. Parecia. Mas ao lado,
ruas lavadas de vermelho. Mas ao lado alguém gritava, alguém gritava, alguém
gritava...
Do topo só existe o topo,
Do altivo topo não há mais nada.
Do ímpar topo cerra-se a vista,
Nem sequer pista de outra
estrada.
Adeus quem é daí. Adeus quem é
de cá. Adeus quem não é de nossa estirpe. Já é hora de abrirmos mão de
irrelevâncias, amores, afinidades. É hora de aceitarmos essa linhagem, essa
linhagem que vem de cima, essa linhagem que não é nossa, mas que há de ser. Que
não conforta, mas há de ser. Que não nos salva, mas há de ser. Alguém sabe o
que está fazendo, há de saber! E bem o sabe! E nós, o que sabemos? E eles? Eu
já não sei.
Do topo dita-se o dia,
Do fino topo dita-se a vida.
E quando olho para este topo
Penso ser hora de dar partida.
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