Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todas as poesias aqui presentes foram escritas por Mao Punk.

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Textos que expõem a fragilidade e indecência humanas de forma irônica, metafórica e sem embelezamentos.

domingo, 10 de novembro de 2013

O TOPO

Do topo caiu o cuspe.
Do branco topo choveu ofensas.
Do humano topo caiu o mundo
No abismo imundo de suas crenças.

Alguém no topo escutou um ruído. Parecia vir de lá de baixo. “Não é nada, voltemos a dormir.” E o ruído não parou. Nem um instante sequer. “Maldição! Parem com esse barulho inútil!” Ah, o sono era ameno! A cama macia, o lençol lavado! Lavado como? Esse cheiro, eu conheço? Essa cor de...

Do topo não se vê nada.
Do rico topo tudo é pequeno.
Do alto topo não se vê gente,
Tudo é contente, tudo é ameno!

Amanheceu o dia, mas ainda era madrugada. Chovia, como sempre. Mas com a chuva matava-se, ingenuamente, a sede. A chuva construía a base. Pilar tempestuoso.  E o guarda-chuva enferrujado nem sequer salvava o corpo. E para quê? Parecia tudo tão normal. Parecia. Mas ao lado, ruas lavadas de vermelho. Mas ao lado alguém gritava, alguém gritava, alguém gritava...

Do topo só existe o topo,
Do altivo topo não há mais nada.
Do ímpar topo cerra-se a vista,
Nem sequer pista de outra estrada.

Adeus quem é daí. Adeus quem é de cá. Adeus quem não é de nossa estirpe. Já é hora de abrirmos mão de irrelevâncias, amores, afinidades. É hora de aceitarmos essa linhagem, essa linhagem que vem de cima, essa linhagem que não é nossa, mas que há de ser. Que não conforta, mas há de ser. Que não nos salva, mas há de ser. Alguém sabe o que está fazendo, há de saber! E bem o sabe! E nós, o que sabemos? E eles? Eu já não sei.

Do topo dita-se o dia,
Do fino topo dita-se a vida.
E quando olho para este topo
Penso ser hora de dar partida.


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