Eu não tenho um porto seguro
(Ao menos sem ser literário).
Por onde ando não sei se há chão;
E se há chão, não sei se é falso.
Talvez porque não haja no mundo um caminho correto.
Ou talvez todos os caminhos mais certos
Levem ao mesmo piso falso onde hei de afundar.
Afundarei em lanças firmadas ao fundo
Ou a flores perfumadas de cores vivas?
Quiçá fosse a prévia de um enterro comum...
Ou seria o conforto de um funeral merecido?
Mas antes disso, antes do descanso,
Enquanto a alma não está presente apenas
Em poesias – que talvez (e muito provavelmente)
Fiquem esquecidas, ignoradas, subtraídas,
Remetidas ao silêncio do tempo –;
Enquanto o corpo pena e sentir pena é esmola inútil;
Enquanto há olhos não comidos, peito não decomposto,
Pele que quase não serve de alimento;
Enquanto estas pernas e pés se debatem,
Não há descanso.
Não há sequer um porto seguro que não seja literário.
Mas há, pelo caminho, outras flores curiosas;
Há a brisa que muda de direção;
Há estrelas e há até mesmo risos verdadeiros;
Eu juro que cheguei a ver o que seria a Perfeição.
Seria, não fosse o fato de que ela não existe.
Ou quase não existe. E por isso quase a vejo.
E essas flores, essa brisa, essas estrelas,
Esses risos e a quase-Perfeição são versos,
São poesias escritas pela mão do acaso,
São vivências literárias, prévias do que se escreve.
Antes do descanso, hei de caminhar com minhas asas
Por este extenso porto seguro literário.
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