Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todas as poesias aqui presentes foram escritas por Mao Punk.

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Textos que expõem a fragilidade e indecência humanas de forma irônica, metafórica e sem embelezamentos.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

DOS CONCEITOS

Acordara quase inerte pelo acaso.
Algo anunciara um exaustivo dia.
Na fadiga certa da tarde vazia,
Erguera-se o corpo a exibir descaso.

Erguera-se o corpo a exibir descaso,
E a cada passo que ele então fazia,
Era o triste mundo a vomitar azia,
Era o mundo triste um perdido caso!

Era o mundo triste um perdido caso...
Caberia ao mundo este conceito raso?
Dissertar a vida em si quem poderia?

E feito milagre a agraciar o arraso,
O mundo perdera seu conceito raso
Quando conseguira achar a Poesia!


domingo, 10 de novembro de 2013

O TOPO

Do topo caiu o cuspe.
Do branco topo choveu ofensas.
Do humano topo caiu o mundo
No abismo imundo de suas crenças.

Alguém no topo escutou um ruído. Parecia vir de lá de baixo. “Não é nada, voltemos a dormir.” E o ruído não parou. Nem um instante sequer. “Maldição! Parem com esse barulho inútil!” Ah, o sono era ameno! A cama macia, o lençol lavado! Lavado como? Esse cheiro, eu conheço? Essa cor de...

Do topo não se vê nada.
Do rico topo tudo é pequeno.
Do alto topo não se vê gente,
Tudo é contente, tudo é ameno!

Amanheceu o dia, mas ainda era madrugada. Chovia, como sempre. Mas com a chuva matava-se, ingenuamente, a sede. A chuva construía a base. Pilar tempestuoso.  E o guarda-chuva enferrujado nem sequer salvava o corpo. E para quê? Parecia tudo tão normal. Parecia. Mas ao lado, ruas lavadas de vermelho. Mas ao lado alguém gritava, alguém gritava, alguém gritava...

Do topo só existe o topo,
Do altivo topo não há mais nada.
Do ímpar topo cerra-se a vista,
Nem sequer pista de outra estrada.

Adeus quem é daí. Adeus quem é de cá. Adeus quem não é de nossa estirpe. Já é hora de abrirmos mão de irrelevâncias, amores, afinidades. É hora de aceitarmos essa linhagem, essa linhagem que vem de cima, essa linhagem que não é nossa, mas que há de ser. Que não conforta, mas há de ser. Que não nos salva, mas há de ser. Alguém sabe o que está fazendo, há de saber! E bem o sabe! E nós, o que sabemos? E eles? Eu já não sei.

Do topo dita-se o dia,
Do fino topo dita-se a vida.
E quando olho para este topo
Penso ser hora de dar partida.


terça-feira, 5 de novembro de 2013

O PORTO SEGURO

Eu não tenho um porto seguro
(Ao menos sem ser literário).
Por onde ando não sei se há chão;
E se há chão, não sei se é falso.

Talvez porque não haja no mundo um caminho correto.
Ou talvez todos os caminhos mais certos
Levem ao mesmo piso falso onde hei de afundar.

Afundarei em lanças firmadas ao fundo
Ou a flores perfumadas de cores vivas?
Quiçá fosse a prévia de um enterro comum...
Ou seria o conforto de um funeral merecido?

Mas antes disso, antes do descanso,
Enquanto a alma não está presente apenas
Em poesias – que talvez (e muito provavelmente)
Fiquem esquecidas, ignoradas, subtraídas,
Remetidas ao silêncio do tempo –;

Enquanto o corpo pena e sentir pena é esmola inútil;
Enquanto há olhos não comidos, peito não decomposto,
Pele que quase não serve de alimento;
Enquanto estas pernas e pés se debatem,
Não há descanso.

Não há sequer um porto seguro que não seja literário.
Mas há, pelo caminho, outras flores curiosas;
Há a brisa que muda de direção;
Há estrelas e há até mesmo risos verdadeiros;
Eu juro que cheguei a ver o que seria a Perfeição.
Seria, não fosse o fato de que ela não existe.
Ou quase não existe. E por isso quase a vejo.

E essas flores, essa brisa, essas estrelas,
Esses risos e a quase-Perfeição são versos,
São poesias escritas pela mão do acaso,
São vivências literárias, prévias do que se escreve.

Antes do descanso, hei de caminhar com minhas asas
Por este extenso porto seguro literário.



domingo, 3 de novembro de 2013

LAÇO*

Nós, as flores,
Os céus
E as mãos entrelaçadas
Feito nós, feito flores,
Feito céus.



* Poesia escrita em conjunto com Inaiara Gonçalves
http://www.piipoca.blogspot.com.br/


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A MINHA CONFISSÃO DEIXO VERSADA

A minha confissão deixo versada
E nem precisaria tanto esmero.
Nos olhos te diria o que mais quero;
Nos lábios a vontade confessada.

Assim, com a poesia despertada,
Eu sigo a confissão do que espero:
Nos olhos te diria o que mais quero;
Nos lábios a vontade confessada.

Se a poesia fosse declamada
Além da voz, além do verso mero,
Nos olhos te diria o que mais quero,
Nos lábios a vontade confessada.

Mas só tenho estes versos e a estrada.
Se teu desejo me surgisse ao certo,
Nos olhos, os teus olhos mais de perto; 
Nos lábios a vontade saciada!