O OURO DA MISÉRIA: POESIA PÓSTUMA V

domingo, 4 de março de 2018

POESIA PÓSTUMA V

Já não havia nada.
Nem esperança, nem desilusão.
Já não havia nada que sustentasse a vida,
Aquela vida desgastada,
Aquele inútil fingimento de que uma hora,
Um minuto, um segundo, o riso viria.
Até veio. Veio inúmeras vezes.
Nunca de forma esperada.
Nunca de forma planejada.
A vida sempre foi mais desencontro.
E agora eu me desencontro da vida.
Já não há mais vida.
Nem esperança, nem desilusão.
Resta o resto de amarguras,
Restam meus restos largados,
Minhas histórias tornadas pó,
Minhas vivências inúteis...
Ah, se eu soubesse que seriam inúteis!
Jamais teria me doído tanto
A cada queda, a cada dor, a cada dia.
Já não há mais lamento.
Nem esperança, nem desilusão.
A vida sempre foi aquilo,
Nunca foi nada além daquilo,
Do vazio disfarçado,
Do vácuo camuflado,
Do vão. De tudo em vão.
A vida nunca foi boa.
Prossigo poesia ignorada.
Prossigo amargura anônima.
Prossigo futura descoberta de um gênio,
"Um gênio incompreendido"!
Genial! Palmas!
Palmas para a lucidez da obscuridade!
Palmas para a compreensão do caos!
Palmas, mais palmas!
Aplaudam o morto, o desgosto,
A perpétua terra onde não há paz!
Festejem o mundo em que estão!
Recolho-me na insignificância do que fui.
Hoje morto. Como todos vocês.

2 comentários:

Paixão30 de abril de 2018 às 00:18
Tem dias que dizer que somos corpos ainda parece muito! Tem dias que todos parecem menos que olhares vazios já que os olhos nada vêem ...

Tempos difíceis para sonhadores...
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Luneta Serón3 de maio de 2018 às 20:36
já tinha lido antes, mas nesses dias que estou passando sem facebook para me arejar em mim mesma e na materialidade dos ventos, nesses dias eu escrevi algo para os amigos que admiro. queria te mandar, e lembrei que além do teu email tenho acesso a este portal, esta flor no asfalto que é tua página de poesias dulciamaras, origamis pontiagudos.
reli então essa sua poesia aí.
e estou tocada, remexida. de tantas conversas que tivemos, a última me deixou até bastante inquieta, eu queria entender melhor seu coração que bate ao avesso. com força e com repulsa, não sei.
mas ao ler você aqui despido e sem boina (você ainda usa boinas?) esta quinta poesia póstuma (seu cadáver escritor está vivo), esta poesia me levou até você, no seu centro quente de níquel e ferro, então é aqui onde você vive.
li em voz alta, li de baixo para cima. pensei em alguns outros amados amigos que fiz póstumos, desencaixados em seu tempo, doídos, taciturnos, no subsolo. primeiro no Pessoa, mas o Drummond veio mais forte, e ficou. e se sentou conosco no centro da terra com seus claros enigmas.
o Drummond, coroa, cansado e vencido (ainda terno, ainda perdido), nos oferece mais perguntas do que certezas.
mais fechaduras, buracos, do que chaves.
mao, o mundo não quer as nossas chaves, não quer remédio, nosso coração simples e idealista é tão zombado, é tão maltratado.
quixotescos nós, talvez.
sozinhos sobre a superfície distraída.
desolados sob estrelas que agora tanto faz, talvez sejam até fictícias, ou pior, dizem que há muito estão igualmente póstumas.
mas e o coração quente latejando no centro da terra, com raivas em lava, alimentando o submundo com quimiossíntese?
e os escuros difusos abissais das paixões, do acaso, das alegrias desconfortáveis que por vezes nos atravessam?
astronautas falíveis deste mundo mau, eu e você e nosso bando de gente lunática.
que prazer esse coração fantasma rompendo o asfalto assombrando quem passa.
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A TEORIA DA LOUCURA*

Texto escrito por Mao Punk

Costuma-se dizer que loucura é a perda do juízo. Porém, quem colocou a loucura sob essa definição? Claro, uma pessoa que não é louca. Digo isso porque a loucura é interpretada de uma forma errada. Provavelmente com esse breve pronunciamento acima não é possível compreender o que quero dizer, mas serei mais claro e tentarei ser o mais objetivo possível.

Primeiramente, falemos sobre sensibilidade. Há indivíduos que conseguem sentir a essência de coisas que outros não conseguem sentir. Exemplo simbólico: um dia de sol. Para alguns, é apenas um dia de tempo bom, mas para outros isso pode ultrapassar o sentido da visão, atingindo a sensibilidade da qual falo: esse dia de sol é um dia mais ameno, que não trará preocupações, um dia que inspira, um dia diferente de outro que traz más recordações. É apenas um exemplo. Como podemos ver, cada indivíduo está sujeito a um diferente grau de sensibilidade. Veremos a ligação da sensibilidade com a loucura.

Alguns pensamentos fora do comum, que implicam vontades ou atos, digamos assim, além da capacidade real, são reflexos de uma sensibilidade mais intensa como, por exemplo, o desejo do ser humano em voar. Voar não é simplesmente ficar suspenso no ar. Nesse caso, é um ato de liberdade e de fuga de preocupações, uma quimera criada da sensibilidade em relação a problemas vividos dentro da realidade. As pessoas que não enxergam esse problema não entendem a vontade de tal indivíduo em querer voar, portanto não acatam esse desejo como algo normal.

As pessoas com a sensibilidade mais apurada conseguem ter pensamentos mais complexos por abrirem a mente a novas sensações. Essas sensações são transmitidas através de ideias diferentes das ideias costumeiras. É essa sensibilidade expressiva, inovadora e ímpar que chamamos de loucura.

Como podemos ver, a loucura nada mais é do que a percepção de grandes sentidos em pequenas coisas, a sensibilidade em um estágio mais avançado.

Vale lembrar que grandes gênios e pensadores da história foram considerados loucos, no entanto ninguém questiona sobre suas genialidades.

Podemos então concluir que loucura não é insanidade, mas sim a sã consciência em seu estado mais sensível e pleno.

* Considero esse o meu escrito mais importante, pois só através de seu entendimento é possível sentir um pouco mais dos meus versos e textos.

PORQUE MINHA POESIA É ANARQUISTA

Texto escrito por Mao Punk

As pessoas nunca entenderão o valor que a poesia tem em minha vida, a não ser que sejam poetas, artistas ou loucas (e acho que todos esses adjetivos estão ligados entre si de forma ou outra).

Comecei a rabiscar coisas que eu chamava de versos aos catorze anos, creio eu (se não um ano antes), e eu fazia isso na tentativa de me libertar de prisões internas. Pensamentos adolescentes desordenados, exagerados, emotivos (mas há no exagero um tanto de verdade, pois talvez o exagero seja o ápice da demonstração de algum sentimento outrora calado).

Nunca mostrei para ninguém os primeiros rabiscos que eu pretensiosamente chamava de poesia. Na realidade, dezenas de escritos foram descartadas por mim. Nunca imaginei que a poesia tomaria um sentido tão essencial em minha vida. Claro, hoje me arrependo de tê-las jogado fora.

De qualquer forma, nunca deixei de recorrer ao papel. Eu havia encontrado uma parceria forte, que nunca me abandonaria. E resolvi, somente aos dezoito anos, organizar todas as poesias que eu ainda guardava comigo em um caderno. Eu o chamava de diário (ou quase isso), já que não estava falando simplesmente de poesias, era a minha vida versada ali!

Com o passar dos anos, percebi que o que mais me importava não era alcançar os objetivos que meus anseios traçavam ao longo dos dias, mas sim expressar esses anseios. Há coisas que simplesmente estão além de nossa capacidade, no entanto a expressão (capaz de alterar a história) é algo que depende exclusivamente de nossa entrega. Se tudo o que posso fazer é me expressar, por que me calar? E a poesia sempre teve um papel importante em minha expressão, embora eu a guardasse em cadernos e não a mostrasse a ninguém mais. Era uma expressão íntima, solitária. E ao escrever, eu tirava um peso de mim.

Mas a expressão não conhece limites, certo? E minha expressão cansou de ficar guardada nas gavetas. Com receio de que minha vida fosse ignorada (estou falando de minhas poesias, logo, minha vida), repassei alguns versos apenas a poucos amigos. E nisso, minhas poesias acabaram sendo repassadas e compartilhadas. Sim, era a expressão sendo multiplicada! Eram sentimentos de outras pessoas encontrando os meus sentimentos. Era um momento em que a vida de outra pessoa se fundia à minha vida! E é assim toda vez que alguém lê minhas poesias!

Hoje entendo que a minha poesia tem uma função: encontrar pessoas que precisam desabafar de alguma forma, assim como eu preciso; transportar minha alma para a alma de outra pessoa; incentivar ou dividir a expressão, seja através dos olhos, do coração ou de alguma nova arte criada a partir do que foi apresentado...

Oras, e como podemos chamar a fusão entre a expressão sem fronteiras, a arte, a união de almas e a construção do novo? Sim, isso é ANARQUISMO!

Minha poesia é anarquista porque desconhece fronteiras. Minha poesia é anarquista porque intenta a união. Minha poesia é anarquista porque é arte. Minha poesia é anarquista porque nasce do amor... Sim, minha poesia também é anarquismo!

E se por acaso viajar em si mesmo e transformar os tormentos em algo novo e produtivo não é anarquismo, honestamente, não sei mais o que é.

Agradeço a todas as pessoas que incentivam a expressão e compartilham, de forma ou outra, de meus versos. Vocês me ajudam a fazer a revolução, seja interna ou, de alguma forma, social!

Obrigado a todos os que tiveram paciência ou curiosidade de ler esse texto até aqui. E façamos nossas revoluções internas, seja através da observação, da reflexão, da autocrítica e/ou da arte. Paz e Anarquia!