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sexta-feira, 9 de setembro de 2016

POESIA PÓSTUMA III

Mais uma vez na cova escura,
Cavando mais fundo com os dentes,
Tentando engolir o que resta
Do que nunca, em tempo algum, foi.
A cova. A casa. Aquieto.
Permito-me o caos do enterro.
A hora inevitável voltou.
Sou um ponteiro para cada morte.
Agora é nova hora de morrer,
De matar em mim o que vive,
O que vive mais do que eu.
Eu estou morto. Novamente.
E que morra tudo o que trouxe comigo
Nesta tumba, neste vão,
Trincheira de guerra perdida,
Neste lar em destroços,
Neste escombro macio,
Neste canto só meu, todo meu!
A vida me testa,
Eu detesto
E atesto meu testamento:
Não busque flores nesta cova.
A vida não me foi gentil.
Eu não deixo legado,
Não deixo esperanças,
Eu deixo apenas a impressão
De que tudo passa.
Tanto já passou enquanto vivi!
E passou para não voltar.
Nem sempre voltei. Passei.
Lembranças. Apenas lembranças.
Como tudo. Tudo é isso. E isso é tudo.
Agora sou lembrança, até que ela falhe.
No mais, sou eu nesta cova,
Morto. E mais vivo que outrora.


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