Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todas as poesias aqui presentes foram escritas por Mao Punk.

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Textos que expõem a fragilidade e indecência humanas de forma irônica, metafórica e sem embelezamentos.

domingo, 6 de março de 2016

POESIA PÓSTUMA I

Não vivi feliz,
Mas fui feliz sempre que pude,
Também fui triste além do que quis
E fui sábio por força do acaso.
Cheguei além do que eu esperava,
Quase nunca onde eu queria,
Fiz mais coisas do que julguei,
Vivi bem mais do que eu soube
E morri mais vezes do que pensei.
Não deixo nada além de versos,
Certamente um punhado de saudade
E possivelmente algum tanto de mágoa.
Também levo comigo mais do que essas flores,
Essas flores de agora tão mais fartas
Que as poucas que recordo ganhar em vida.
Eu levo comigo as marcas que nunca sumiram,
Mas também os momentos de risos abertos.
Eu sou mais que um corpo gelado à mesa,
Eu sou a minha antologia completa e finalizada,
Eu sou o ciclo fechado do que nunca foi planejado,
Sou e fui bem mais do que enxergam.
Ninguém enxerga nada.
Eu mesmo não me via como eu era
E hoje esses olhos farão a cerimônia na terra.
Mas quem disse que é preciso ter olhos?
Para ver a essência é preciso sofrer.
O sofrimento é a visão dos prudentes.
Fui prudente o quanto pude,
Pude bem mais do que eu gostaria
E também menos do que me preparei.
Eu fui embora, mas nem por isso
Fui aquela pessoa virtuosa que dirão por aí.
Fui virtuoso, sim! Não em tudo.
Alguns relatos são ressentimentos guardados,
Outros são exageros, outros pena,
Alguns compaixão.
Eu fui embora sem perdoar muitos erros,
Não relevei atitudes dolorosas
E até o último suspirar carreguei mágoas,
Mas também carreguei amor.
E tudo que não pude perdoar,
Tudo que não quis relevar,
Toda minha aversão a quem machuca,
Serão só detalhes para quem fica,
Pois deixo de herança o amor.
Herdem-me todos e dividam!
E festejem! Festejem a partida!
Festejem com poesias, música, arte,
A quem quiser, que bebam, que façam orgias!
Mas festejem a partida!
Aqui jaz a amargura que deixou o amor viver.



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