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domingo, 23 de fevereiro de 2020

POESIA PÓSTUMA VIII

A multidão passou por mim.
Meu corpo não é o que esperam.
Minha carne é folia para vermes.
Meu espaço nunca esteve no mundo.
A multidão, não sei se ela sabe,
Também não tem espaço.
Tudo é aparência. Tudo é cortina.
Há um morto na poltrona da frente.
Há um morto que não bate palmas.
Mas o palco é mais animado,
O palco é mais confortável.
Parece. Daqui parece.
Mas mortos não sobem nos palcos.
A multidão passou por mim.
O corpo exala morte.
A carne expele a angústia.
Mas ninguém sabe o cheiro da morte,
Ninguém sabe que cor tem a angústia.
O palco, a passarela, o mundo,
Tudo em outro patamar...
Não há espaço para os mortos.
Meu corpo permanece jogado.
Meu corpo no espaço alheio.
Vagueio, desencarnado, entre cores.

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