Eu me contentarei com meu melhor.
E meu melhor é ser um derrotado.
Minha virtude é ausência de vaidade,
E embora eu queira aquilo que não tenho,
Não tenho a pretensão de alcançá-lo.
Eu sei que jamais alcançarei.
Então eu emudeço e observo
A impotência em ser o que eu sou.
Encaro-me nos olhos, quero chorar.
Quero arrancar de minha frente
Este ser que incomoda os olhos,
Incomoda o respirar, incomoda o viver.
Mas nunca arranco.
Eu me contento em não me aceitar.
A aceitação é hipócrita.
Eu me contento em ser verdadeiro.
E a verdade está estampada no espelho,
Está esticada no colchão quando acordo
E está farta de tudo quando me deito.
A verdade está isolada, desolada, incomodada,
Amargurada, a verdade que sou!
Todas as belezas renunciaram meus cuidados.
Eu renunciei a ilusão. A beleza não existe.
Eu tenho uma bagagem cheia de verdades,
Cheia de vácuos espaçosos e pesados,
Cheia de absoluto pesar. Cheia de mim.
Eu não posso ter além do que me cabe.
E em mim só cabe eu e o vazio.
Eu me contentarei com o que me cabe.
Não há canções que falem sobre mim.
Algumas dizem sobre coisas que sinto,
E sentir nem sempre é viver.
As canções que sinto não são sobre mim.
Nada é sobre mim neste mundo triste,
Apenas meus versos, esses rejeitados!
E eu me contentarei com meus versos.
E esse é o melhor que eu consigo:
Estar a esmo e aceitar o fato.
Não quero discutir com meu destino,
Destino não existe, é antes sorte.
E contra a sorte que jamais eu tive
Não há de se ganhar jamais a causa.
Por fim, eu me contento em ser poeta.