Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todas as poesias aqui presentes foram escritas por Mao Punk.

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terça-feira, 4 de outubro de 2011

O PÃO MOFADO, A LONA VELHA, O GRITO E O DEPOIS

O gosto acre não é de hoje,
Este azedume servil, tristemente, vergonhosamente servil,
Não se fez do último sapo engolido.
Este azedo na boca não é dos beijos vencidos de outrora.
Não só! É algo do gosto daquela velha refeição
Naquela mesma sala de jantar antiga.
Talvez o acúmulo do sabor imposto de pimenta,
Talvez um pigarro, um soluço, um grito.
Toda sorte de nossa democracia que acidifica o paladar.
Este sabor, este quê indigesto, é hereditário.
Mas dizem – assim ouvi dizer – que com o tempo
A herança é deixada aos filhos sociais,
Melhor diria aos órfãos sociais,
E o gosto intragável some dos pais,
Some das mães, dos tios, dos solteiros...
A vida começa depois dos quarenta.
Seria por isso? Não é vida.
É a aceitação da morte, morte acre,
Morte azeda, morte servil, vergonhosamente servil.
Aos filhos e filhas, morte!
À doce saliva, morte!
À mesa o mesmo jantar, na mesma sala antiga.
Já não tem gosto para muitos.
O gosto que sinto é azedo,
Para além de quarenta mil anos.

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