Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todas as poesias aqui presentes foram escritas por Mao Punk.

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Textos que expõem a fragilidade e indecência humanas de forma irônica, metafórica e sem embelezamentos.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

SONETO PARA UM SENTIMENTO NÃO DECLARADO

Este sentimento, tu que o carregas
Qual mistério eterno, como me traz vida!
Pois se não o sinto, como me castiga;
Quando o sinto em algo, como me completa!

Este teu segredo quanto mais trancado
Mais em teu cuidado enfim se denuncia,
Pois quem guarda o ouro não conseguiria
Esconder no rosto o riso contentado

De quem tem consigo a fonte da riqueza.
Quem oculta o ouro nutre a avareza,
Torna-se tristonha esta condição.

Assume teu ouro, por contentamento!
Traze-me o conforto de teu sentimento
Ou deixa-me torpe desta ilusão.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

SONETO ILUSÓRIO

Máculas são estes versos batidos!
Chora o poema tão logo se o faz,
Derrama a rima um pranto sem paz,
Reclama a estrofe um novo sentido.

Se, bem atento, visar o que digo,
Nota-se em tempo que há pranto a mais:
Em desventura que não se desfaz
Ouve-se um peito a chorar recolhido.

Oh! Como fere este caso perdido!
São poesias sem mundo ou abrigo
E um sentimento que soa incapaz

Quando ele intenta fazer redivivo
Dia após dia, nos dias que sigo,
Qualquer conforto deixado p'ra trás.

SONETO DE FRUSTRAÇÃO

Quisera eu, este poeta errante,
Os versos adornar com maestria
Quais tais dezenas lidas poesias
De dores ou prazeres triunfantes.

Triunfam, pois se avistam o semblante
De quem os lê qual prêmio ou regalia
Não se há de vir senão tal alegria,
Vazio preencher-se-á neste instante.

Mas eu, dos versos servo e aspirante,
Não sei senão amar d'outros amantes
As memoráveis belas poesias.

Intento a obra assim gratificante,
Mas ao me arriscar sou figurante.
Finjo um poeta qual jamais seria.

domingo, 11 de setembro de 2011

NO SAMBA

Charme dançando,
Meu pensamento samba.

Devoro o sorriso
Com os olhos de bamba

E morro nos olhos
Da moça que manda

Naquele momento.
Meu peito desanda!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

SONETO DE CEGA CONDIÇÃO

Escrever se faz com certo sacrifício.
Dividir em versos os meus sentimentos,
Decidir o rumo de meus pensamentos,
Torna-se injustiça, morte ou suplício.

Ora encontro em mente o beijo realizado,
Sinto uma saudade a me tocar a boca.
Ora o pensamento, em vontade louca,
Torna a desejar os lábios não tocados.

Dentro do dilema com o qual convivo
Não encontro paz, caminho ou lenitivo,
Não vejo esperança para as emoções.

Para suportar o fado que carrego
Somente arrancando este meu peito cego
Ou me agraciando com dois corações!

domingo, 4 de setembro de 2011

DESUMANO

No alto, lá no céu,
O helicóptero voava.
Todos podiam ver seu voo
Com ruído inconveniente
E estética morto-metálica.
Enquanto isso, quase em mergulho,
Na praça - havia verde -
Voavam baixo os passarinhos.
Ninguém mais os viu.
Somente eu, com estes olhos.
Somente meus ouvidos escutaram
Os cantos multissinfônicos.
Na cidade os homens rastejam,
As latas levitam, o pulmão sofre,
Os pássaros - belos pássaros -
Quebram fronteiras!
Na cidade os olhos fogem,
Minha alma imita o voo (ou seria mergulho?)
Dos pássaros desumanos.
Ah, pássaros desumanos!
Essas almas leves é o que permite voo.
E quando, fugindo da cidade,
Encontro estes seus dotes
É que me desumanizo
E alcanço a última estrela do céu.