Perdi o tato para escrever.
Perdi a métrica em alguma esquina,
Perdi a métrica em alguma esquina,
Em algum cruzamento dentro de mim
Entre o passado e o agora.
Perdi o tato após ter perdido o paladar.
Há muito tempo perdi o paladar!
Não sinto o gosto das coisas.
Raras vezes algum sabor se pronuncia.
E se dissolve.
Perdi o olfato. Não sinto as flores,
Os perfumes do dia-a-dia.
Serei eu ou não há flores?
Serei eu ou não há perfumes?
E cadê os sons, céus, os sons?!
A musicalidade, o ritmo…
Perdi a audição no silêncio do luto.
Eu perdi minhas poesias para o passado.
Mas não perdi a visão.
Não perdi o olhar que captura novos versos,
O olhar que expressa,
O olhar que enxerga além do que eu queria
E vê além, bem além, dos limites.
O olhar é crítico. O olhar é vivo.
O olhar tem tato. Derrama-se em tudo.
O olhar sente o gosto do que a alma vê.
O olhar escuta a alma e a pronuncia.
O olhar sente o gosto do que a alma vê.
O olhar escuta a alma e a pronuncia.
O olhar tem voz!
Perdi os sentidos no que se passou,
Mas Quintana me avisou
Que meus olhos passarinhos.