Nada além do de sempre,
Do nunca. Do tudo que se perde.
Nada além do encontro do que se perde
Com o que não há de ser, jamais.
Por quase três décadas o espelho nunca foi mágico
(Apenas Quintana me fez, por um momento, acreditar que sim.
E isso durou apenas enquanto o tempo era esquecido nas páginas.
E Isso retorna apenas quando as páginas me afastam do tempo).
O espelho nunca foi mágico, mas foi e é real.
Por quase três décadas, apenas reflexos de quase três décadas.
E o que vejo não condiz com tudo que posso querer.
O que eu quero é menos intenso que o reflexo de quase três décadas.
O que eu quero não consegue me alcançar,
Pois que não sou eu que não consigo alcançar meus desejos,
Mas meus desejos é que não me alcançam. Estou inalcançável!
Eu afasto. Sempre afastei.
E talvez a poesia, o amor, a entrega, a angústia, a amargura,
Talvez essa porção de vida tenha intensificado a questão.
Eu afasto. Afasto mais do que nunca.
Sei bem o que quero em meio ao não saber o que se pode querer.
Dizem ser muito arriscado lidar com a certeza do incerto.
Quanto a mim, tenho a mais incerta certeza de que nada sei,
Mas sei que estou certo em assim pensar, parece-me.
E por parecer, arrisco. E assim o faço por parecer com algo que o espelho me mostra,
Por parecer décadas clamando novas décadas.
E parece-me que há marcado, em algum tempo e espaço,
O encontro feliz do que se perde com o que não há de ser, jamais.
Feliz, sim, por arriscar o que poucos tem coragem de tentar alcançar:
Ser inalcançável ao que não se precipita.