Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todas as poesias aqui presentes foram escritas por Mao Punk.

Visite também meu blog de textos: RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS .
Textos que expõem a fragilidade e indecência humanas de forma irônica, metafórica e sem embelezamentos.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A POESIA DOS TEMPOS*

És tu a poesia que não passa,
És métrica impecável, verso e rima!
És obra que qualquer poeta estima
E quem tentar versar logo fracassa!

Fracassa, pois a língua é escassa,
Fadada a dissolver-se em ruínas,
Pois toda sorte de palavras finas
Jamais faria jus à tua graça.

Tentar versar-te é quase ameaça
E não importa a arte que se faça,
Se acaso ousar dizer-te, é assassina!

Pois mata de ofensas quando traça
Quaisquer cortejos, tudo se embaraça
Sem nunca traduzir tua valia.




*  3º Lugar no Prêmio Emílio Lansac Toha,
XX Concurso de Poesia e Prosa da Academia de Letras de São João da Boa Vista - Categoria: Poesia/Adulto

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

VERSOS COMPENSADOS

Augusto se fora com alguém...
"Vá c'os Anjos,
                        Mas volta que tenho saudade!"

Enquanto isso, porém,
Eu esbanjo
                 Um sorriso nos versos de Bocage.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

DIARIAMENTE

Não é preciso que todo dia
Se escreva uma poesia,

Mas a cada dia é preciso viver ao menos uma.
E viver poesia só é difícil
Quando tentamos vivê-la.
Do contrário, somos versos à sorte da criação,
Somos livros acontecendo, linhas livres, rimas em potencial.
Somos o tempo e poetas de nós mesmos.

Não é preciso que todo dia
Se escreva uma poesia,

Mas é preciso que a poesia
Se escreva a cada dia.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

SONETO DE (INOCENTE) EXPECTATIVA

Não sabes, Maíra, eu sorrira à vida!
Eu contrariara a sorte do destino.
Quem outrora vira o meu desatino
Não creria hoje em uma dor perdida.

"Mais dores virão!", a voz embrutecida
Censurar-me-á, mas eu a desafio:
"Há de me rogar mil dores, eu confio
Que haverá mais risos, em contrapartida."

Essa voz hostil é uma voz sofrida
A tentar impor à sorte oferecida
Qualquer aflição, mas dor já não preciso.

Minha sensação não pode ser contida!
Como hei de escutar a voz aborrecida
Se ainda há pouco vira teu sorriso?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

SONETO PARA O TEMPO EM QUE ABRAÇAVA MINHA AMADA

Ao lembrar a amada que eu nunca tivera,
Sinto comprimir o peito em desventura,
Pois não pode a boca relembrar doçura,
Nem tampouco o corpo, a lamentar quimera.

Faço testemunho triste do que passo:
Tendo a boca seca, sempre isenta ao beijo,
Nunca desfrutado o corpo que desejo,
Reclama minh'alma o toque de um abraço.

Antes o tivera! Chama-se saudade
Esta vil lamúria sem dó nem piedade!
Como libertar-me deste contratempo?

Meu pesar jamais será remediado:
Não se desapega de um tempo passado,
Pois todo o passado está preso no tempo.

sábado, 4 de agosto de 2012

SONETO DE PENAR

Escrevi um nada que não tinha causa,
Era coisa alguma sem qualquer motivo,
Um vazio imenso sem objetivo,
Um conjunto inútil de palavras rasas.

Escrevi à toa, sem que houvesse rumo,
Foram versos cegos, sem qualquer caminho,
Um poema tolo que se fez mesquinho,
Uma folha gasta sem cortejo ou prumo.

Escrevi por pena que de mim eu tive
E nesta aflição tamanha não contive
Este impulso triste de versar as dores.

Eis aqui o mote para a poesia:
Não encontro um quê sequer neste meu dia
Que dê esperança de novos amores.