Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todas as poesias aqui presentes foram escritas por Mao Punk.

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Textos que expõem a fragilidade e indecência humanas de forma irônica, metafórica e sem embelezamentos.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

A ESTRANHA PAZ

Não sei que sossego me toma
Que minh’alma em conflito se adorna
De paz que tua presença traz.

Dentre esta guerra em meu peito
– Onde o meu maior feito
É tal guerra ter declarado –

Surge incompreensível recanto
No qual repousaria meu pranto
Na paz de estar ao teu lado.

Em tantas lutas da alma,
Se falta vitória à batalha,
Só ver-te me torna honrado.

Recai o meu corpo na luta
Vez mais rendido à tua culpa
De seres vitória em tal ato.

A IMPUDICA DANÇA DOS LÁBIOS

Eu queria lhe escrever uma poesia,
No entanto, valores poéticos são momentâneos
E não creio que poema algum perdurará
Os sentidos que hoje se fixam em mim.

Para expressar essa paixão voraz
Que meus versos não podem alimentar,
Tocaria teus lábios, devorar-te-ia
Em desesperado beijo impudico.

Neste ato imoderado de fervor,
Em que tua língua dançaria em minha boca,
Deixaria a marca de meus sentimentos
Que versos quaisquer não traduzirão.

SOBRE SEGUNDOS PARADOS

Coração meu não bate mais forte,
Quando lh’avista não perde seu norte,
Não sinto o que sinto noutro sentido
Quando não sei o que estou sentindo.

Mas se lhe avisto, paro no ato.
Mesmo o tempo mostra-se grato,
Pois tais segundos, sublimes momentos,
Tornam-se alheios a seu próprio tempo,

Encontram-se livres a lhe contemplar,
Assim feito eu, p’ra te admirar.
Se meu coração não bate, enfim,
É porque parou, como o tempo, por ti.

OBRA AO ACASO

Quero viver cada vão momento
Para guardá-lo nas linhas,
Nestes versos carregados de algo
Que não se pode, nem se deve, entender.

Meus segundos são versos,
Minutos são rimas,
Horas são estrofes,
A vida é poesia

Que se escreve por si
Sem pretensões de um fim,
Mas de final irrefutável
Donde torna-se obra ao acaso.

POESIA MEDONHA

Medonha poesia da vida
Quão meus versos não podem ser
Mais que os versos de tais dias.
Amadora poesia das folhas,
De estrofes limitadas,
Quando olhos maravilhados
Viram-se aos belos vocábulos,
Mesmo assim é tão pequena
Perante o poema absurdo,
A louca arte quase abstrata,
Essa poesia tão medonha
E encantadora chamada vida.

O BEIJO DE MARTE

Os homossexuais se beijavam
Na estação Santa Cruz.
A linda cena inspirava
Felicidade, na linha azul.
Que bom seria se nesses dias
Pudessem eles se entregar
À liberdade de todo dia
Ser assim, em qualquer lugar.

Que o preconceito não cale o amor,
Que o amor seja livre
De todas as formas.

MIL MONALISAS (O ACHADO DE UM PÁSSARO VERDE)

Culposa admirável, que receio não parar de querer,
Trazes mil Monalisas em teu sorriso
E mil graças ímpares vindas de ti.
A serenidade brota de tu’alma,
Mas em mim fincaram-se as raízes.
Tens culpa, bela, culpa sublime,
Pois és imã à minha atração
Que meus olhos admiram puramente.
Por tudo que lhe é mais sagrado,
Tende piedade de meus sentimentos
Que a cada segundo que lhe vejo
Mais tua simpatia atinge minha mente.
Oh, cheia de culpa e encanto,
Tende piedade deste que lhe gosta.
Quanto mais charme tu mostras
Mais e mais penso em ti pelos cantos.

RETRATO DE UM HOSPITAL

Doentes esperam em um corredor.
Doenças se espalham. Doutor?
“Doutor, me chame! Por favor!”
Tem gente nos cantos morrendo de dor.

Nesses hospitais não temos a cura.
São os hospitais que precisam de ajuda.
Enquanto qualquer paciência se anula,
Tem gente dizendo: “alguém nos acuda!”.

Cansado, irritado, estressado, iludido.
O que será de mim? Não sou atendido.
No corredor sinto o ar deprimido.
Dezenas de infelizes aguardam comigo.

(Não é hospital. É abrigo de desgostos.)

POEMA VISCERAL DO SACRIFÍCIO

Minha poesia não surge,
Não aparece do nada,
Não se faz sobre algo.
Sinto como se meus cantos
Não começassem.
Minha poesia não surge,
Ela está.
Minha poesia não aparece,
Ela é.
Minha poesia não se faz sobre algo,
Ela vive infinitamente.
Esses meus cantos pessoais
Não começam, sempre foram,
Não terminam, não têm fim.
A poesia é minha deusa,
Minha devoção meus versos,
E meu sacrifício, como segmento,
Por minha deusa inexplicável,
É viver...
O ESPAÇO INFINITO DE TODA SENSAÇÃO ABSOLUTA E SINCERA QUE A ALMA TORNA TÃO INEXPLICÁVEL QUE NÃO FOI POSSÍVEL DAR UM NOME SIMPLES A ESSE REGISTRO TÃO INTENSO

Quero sentir a vida de uma forma inédita,
Quero respirar a brisa do destino incerto,
E após encher meus pulmões de um estranho ar,
Mergulhar seco nessa imensidão vazia
E tão cheia de nada que eu possa explicar.
Quero andar nas ruas ao som de músicas,
Abrir os braços e girar como uma roleta
Rodando à sorte de um futuro indizível.
Quero encher meu corpo do que não se acha,
De uma sensação ímpar e inexistente,
Quero um sentido diferente de tudo,
Sorrir para o nada, abraçar-me forte,
Ceder felicidade ao mundo, viver novo,
Quero gritar e berrar e cantar,
Dançar, expor toda a inexplicação,
Quero explodir milhões de alegrias,
Quero tudo de uma forma absoluta,
Quero a terra e céu,
Quero ser a Lua e o fogo,
Quero ser tudo o que for impossível
E o que for possível que esteja em mim,
Pois quero ser um mundo meu
Que controlo e que possibilite meus anseios,
Que torne meus anseios realizados.
Quero a poesia, os sons, os risos,
Os amigos, quero tudo isso e mais.
É impossível reunir em um poema
Todos os desejos d’alma, sendo assim,
Quero que esse registro marque
A sensação que não se limita.

FUNCIONÁRIOS DE CHRONUS

Vocês não sabem, mas sou um ser humano.
Sei pensar, raciocinar... mas não sinto o mesmo de vocês.

Tento me manter cada vez mais firme
E vocês buscam mais e mais ignorância.

Isso é certo? Quem é a escória? Quem é o desprezível?
Revejam seus conceitos. Vocês são o atraso da humanidade.

SONETO PARA CAMÕES NOS TEMPOS DE HOJE ou SONETO PARA MIM NOS TEMPOS DE CAMÕES

Caro Camões, deras amor às palavras!
Diga-me como tudo então seria
Se minha carne, que hoje vivida,
Fosse já presente quando encantara

Tantos corações, quais romantizados
Nas paixões em quais fizera versos.
Quantos peitos se fariam abertos
Aos poemas por mim concretizados?

Se vivesse em tempos como vivo
Quais sentidos traria tua obra?
Fico filosofando a poesia.

Oh, Camões, lhe conto o que reflito:
Não conquistaria nesse agora
Mais paixões quais tivera em tua vida!

A EXPRESSÃO POÉTICA

Sente-se um silêncio dentro d’alma?
Como, se a alma reclama a todo tempo?
É hora de expressar os sentidos
Que até então se encontram calados.
Minh’alma se expressa, busca mais.
Poemas, danças, filosofias, pensamentos,
Atos espontâneos, a arte do peito
Expressa de forma poética.
Pois é poesia criar rosas no deserto
E voar sem asas para além de tudo.
É poesia encontrar um mundo
Qual somente seus sentimentos podem tocar.
É poesia se expressar livremente
Com o tão simples intuito de leveza,
De sentir o corpo flutuando,
Sentir a mente girando indescritivelmente,
Um toque nas nuvens, o sabor de um nada,
De um nada real, o feitiço,
Feitiço poeticamente criado na paixão.
Paixão de mim por mim, da vida por si,
Sem embelezamentos. É que não posso explicar,
Somente expressar, expressar!
Meus sorrisos ao nada, a folha entregue,
A água dançando na boca, o dia
Que não faz sentido, a música.
Tudo estranhamente poético,
Pois é poesia a expressão d’alma!
Essa expressão “vã” e sem nexo,
Essa expressão sem início e fim,
Sem objetivos claros, sem rumo.
É a expressão que está por si só,
Apenas para mostrar que é poesia.
É poesia a expressão! É loucura!
É a terra se movendo, o céu brincando,
São tristezas mutantes e insanas
Na roda de anjos sorrindo.
Oh, é loucura o que escrevo
Por ser tão somente a expressão d’alma,
A melodia de uma mente tumultuada,
O retrato do cotidiano absurdo,
É o bem e o mal, o ruim, o bom,
Tudo mesclado e freneticamente agitado.
É que não sei dizer, não sei.
A alma precisa falar.
Que seja alívio imediato
Cantar minhas loucuras
Da forma que a alma expressa.
Oh, tão medonha e magnífica
Expressão poética!

***

Se louco me julgam,
Que assim seja!
Por vezes a loucura é virtude!
Se a vida me faz louco,
Trouxe-me a sensibilidade
De me enlouquecer em belas surpresas
Que ninguém pode experimentar...
Somente quem é louco.

PRIMEIRO (CONSIDERÁVEL) SONETO

Falha minha ter me apaixonado.
Só pesares, desventuras tenho.
Quando não disponho de quem mais desejo
Tanto sentimento faz-se acabrunhado.

Da sinceridade qual o peito sente
Quanto será claro a quem tanto adoro?
Se meus versos não chegarem aos olhos
De quem mais importa, como ser presente

Tal paixão a quem me apaixona?
Se me fosse concedido o encanto
Não seria dor querer quem tanto quero.

Mas essa paixão do peito não se abona.
Mesmo quando d’ela sinto que me canso,
Não se anula, quando d’ela algo espero.

COM CERTEZA SANDRA

Perdoe-me pelo infortúnio que lhe causa
Este meu tão encantado olhar,
Por lhe seguir sem tua licença
E admirar-te assim constantemente.

Mas que olhos poderiam ter seu horizonte
Inalterado, focado noutro ponto,
Quando, fora da paisagem rotineira,
Surge então beleza como a tua?

Portanto, assim desconheço
(Pois não há ciência que explique)
Como isentar-me de tua graça,
Pois meus olhos não lhe abdicam.

CASCA DE NOZ

Eu descobri,
Com grande infelicidade
Que o mundo é pequeno demais
Para comportar nossas vontades.

SEGUNDO PREITO

Não sabes os olhos que tens, da vivacidade em mil cores,
Nestes castanhos puros, do encanto, da inspiração
Quais estes teus olhos transbordam, em outros jamais virão
Encanto tamanho, o fascínio que sempre teus olhos terão.

Não sabes de mundos que existem ocultos em teu olhar,
Quem explorá-los se atreve, se perde d’outra direção
Que não estas cores castanhas. Qual outro caminho senão
Deixar-se perder em teus olhos, achando-se em tão bela
[condição?

PECADO QUAL ME ENCANTA

Em que pensamentos se encontra o erro?
Impossível olhar-te e não ter desejos
Se o desejo que sinto é súbito
Tal como o encanto que de ti é fruto.

Se peco ao querer-te, perdão, mas
Inevitável é o impulso que me traz,
Assim como incontestável sua beleza
Qual traz fascínio à minha fraqueza.

Declaro, amenizando este meu pesar,
Admiração por ti, por não poder guardar
Segredo sobre o algo que me toma corpo
Tão logo que te vejo e sempre que te encontro.

ÚMIDO SOL E NUVENS DE FOGO

O jacaré poderia voar,
A barata poderia ter tromba,
A árvore poderia cantar,
A luz poderia ter sombra,

Estrelas poderiam dançar,
O céu poderia ter flores,
O mar poderia flutuar,
A água poderia ter cores,

Cavalos poderiam ter asas,
Pôneis poderiam ter chifres,
Os ratos poderiam ter casas,
A vida poderia ser livre,

Mas tudo é exatamente assim,
Somente imaginar não mudaria.
Poderia ser tudo diferente.
Poderia. Apenas poderia...

MAIS VITAL QUE MINHA CARNE

Tenho amigos que não sei dizer,
O coração abriga, sinto!
Poesias não podem explicar,
Então apenas registro aqui
A sinceridade d’alma que escreve:
Obrigado por estarem comigo!
Sou corpo vazio sem vocês...

A HISTÓRIA DE UM GAROTO QUE NEGOU AMAR

Ele poderia ter dito que a amava,
Mas calou-se diante do fato
Enquanto uma tristeza gritava abafado
E a paixão não se fez declarada.

Ele poderia ter dito “te amo”,
Mas deixou a verdade p’ra trás.
Da esperança ela se desfaz
No momento de tal desencanto.

Ele poderia dizer seu amor
E ficar tanto tempo com ela,
Mas evitou uma dor de cabeça
Ao negar e causar uma dor.

A dor sem amor passa,
A dor do amor é desgraça.

A VIDA POÉTICA

Oh, é que levo a vida
De forma poética!
É que cada momento
É um verso em minha vida!

Cada segundo vivido
Sustenta um pouco de poesia,
Cada sorriso obtido
É rima nos lábios sorrindo.

Cada tristeza do peito
Melhora de encontro aos poemas,
Cada mero pensamento
É notável inspiração.

Todo respirar dado
É um suspiro de poeta,
Toda vida que tenho
É arte incompreensível.

Toda folha confidente
É a tela de um mundo.
Mundo existente somente
Na alma de quem escreve.

A TELEVISÃO

Ouço vozes em minha mente, vozes agressivas,
Vozes inconscientes, vozes cegas e indignas.
Elas me criticam, difamam e até questionam:
“Inadequado, vândalo, por quê?”
Por quê? Se digo, se viram.
Sou todo voz a nenhum ouvido.
Estão surdos, muitos mudos, se falam
Maltratam, destratam, é fato!
O que faço? Um momento...
Um tempo para meus pensamentos...
Ah... as vozes não saem de minha cabeça,
Se corro me seguem, perseguem.
Preciso me sentar, relaxar, esquecer.
A TV vou ligar, vamos lá!
De canal a canal só o mal pela tela!
A vida não parece tão bela.
Em frente à televisão chego à conclusão
Que além de feia é falsa essa vida,
É mentira por trás de mentira.
Só nesta hora que o povo escuta
E acredita na imagem que oculta
A verdade de pessoas como eu,
Que dão o sangue por algo sincero
Que é a igualdade que eu tanto quero.
Mas ali está você, que mesmo sem saber
O que faço da minha vida, acredita na mídia.
É uma extensão da televisão
Que prefere acreditar em uma edição de qualquer emissora
Do que crer na vontade de um coração.

AO ACASO

Pulei uma página
Sem querer.
Ficou um espaço
Para escrever.
E assim, sem querer,
Das linhas vazias,
Surgiu poema
Preenchendo as linhas.

LOUCO SENTIMENTAL

Um louco sentimental,
Mas não me leve a mal,
Sou uma criança adulta,
Um filósofo emocional,
Um coração com um coração,
Menino com brinquedo na mão,
Sou nascido abrindo os olhos,
Sou a observação,
Um perdido encontrado,
Iludido apaixonado,
Emotivo desvairado,
Pela vida escravizado,
Um louco sentimental
Com o peito aberto a tudo,
Descobrindo sobre a vida,
Colocado neste mundo.

POESIA SEM PALAVRAS

...
...
...
?
...
? =
...
(-)
(...) ?
...
... ∞ ?
...
≠ + !

POEMA ÀS TRAÇAS

Traças não devorarão minhas folhas!
Se destas páginas se alimentarem
Não se fará a digestão destes versos.
Sua fome não é maior que o poema.

Alguém lembrará da poesia,
Mas às traças não haverão lembranças,
Exceto pela citação nas estrofes.
Oh, traças, que mal farão às escrituras?

Dentro de seus pequenos corpos
Existirão partículas de meus sentimentos.
Se forem esmagadas, traças amigas,
Nos sapatos assassinos estarão minhas palavras.

Não queiram ser parte de mim,
Complexa demais minha vida para traças.
Se querem as folhas, devorem e sumam;
Se querem a poesia, estejam com fome!

TÃO FÚTIL SABER O AMANHÃ, “SENHORES”, QUE O PEITO CLAMA POR MISTÉRIO

Que não esteja o dedo em riste,
O caminho apontado e ditado na ponta das unhas.
Que esteja o ponteiro da mente desnorteado,
Dando voltas irregulares a cada segundo.

Que não estejam em um livro os fatos,
Profetizados e dogmatizados, imutáveis.
Que esteja a verdade no duvidoso,
O certo no indizível, que seja mistério.

Que não esteja em vivência alguma
A experiência de qualquer novo fato.
Que esteja em segredo o futuro,
Que o futuro seja somente amanhã.

Que não esteja em mim a esperança,
Mas tão somente a coragem, apenas.
Que esteja suficientemente presente
A vida insegura em meu peito amador.

SENTIMENTO NUNCA VIVIDO (versão II)

Não sei o que você me faz,
Mas faz como ninguém.
Minha musa, não sabe o que faz,
Mas faz a mim – e muito bem.

De um jeito incompreensível.
Diria até agressivo.
Não sei o que você me faz,
Mas, musa, faz como ninguém!

MULHERES

Ah, se beleza fosse tudo...
Mas a sutileza e o perfume desnorteador também existem.
E essa sutileza não é simples, não é santa,
Não é calma, não é nada que se explique,
Mas é serena enquanto queima,
É amena enquanto intensa,
Traz olhares e desejos, traz vontades, pensamentos,
Traz aquele tal perfume que se espalha pelas ruas.
Agradam, despertam, iludem, enganam,
Têm tudo nas mãos delicadas (que apertam),
Apaixonam corações, assanham corpos.
Há nesta vida ser mais complexo?
Em poços de vaidade são mesmo assim belas,
Em sua imperfeição ainda são donzelas,
Sensíveis, mesmo impiedosas.
Assim nos fisgam e nos fazem ser
Não mais que um ser desprezível, comum,
Em casos não mais que um doente de amor...

IRMÃOS, AMIGOS (SORRISOS, SORRISOS)!

Amigos, amigos, amigos, amigos...
É tudo o que quero! Amigos, amigos...
Que tanto me apoiam, que tanto me querem,
Que tanto adoro, que tanto preciso.
Há alguns aqui, há outros ali
E entre tantos e tantos amigos.
Me trazem força, me trazem esperança,
Me trazem carinho, me trazem sorrisos.
Amigos de sempre ou novos amigos,
Amigos... amigos serão sempre amigos,
Que preenchem meu peito, apagam minhas dores,
Abraçam minha alma e ficam comigo.

SÚPLICA DE AMIZADE

Por favor, não me deixem!
Persistam mais anos e anos, para sempre.
Por favor, não me abandonem,
Pois são a única certeza na minha vida.

São os únicos sorrisos que sei dar,
São os únicos momentos que sei rir,
São os únicos que poderei contar,
São os únicos a quem darei meu sangue.

Por favor, fiquem!
Fiquem sempre ao meu lado para tudo.
Por favor, permaneçam!
Não se desfaçam de mim nunca.

Pois se precisam, estou aqui.
Se necessitam, estou aqui.
Se bem ou mal, estou aqui
E nunca os deixarei a sós,

Pois tenho carinho por todos vocês,
Tenho admiração de grande fã,
Tenho amor por tais amizades,
Tenho a necessidade de meus amigos.

QUEBRA-CABEÇA

Dizem que esses versos
Mas isso serve somente
São ridículos e são péssimos
Para aqueles que não entendem

Que se juntar rima com rima
Que serve tão apenas
Surgirá uma poesia
Para confundir cabeças.

Pode até ser meio sem nexo
Achará todo o poema
Mas se você tiver reflexo
Como uma brincadeira

Feito para distrair
Dessa tão confusa vida
Para eu poder fugir
Tanto quanto essa poesia.

GAROTA DA VILA OLÍMPIA

Garota que me olhara,
Que me vira e foi-se embora,
Que virara uma esquina,
Que sumira à mesma hora,
Que virou-se com seu tronco,
Que fizera o que eu fiz,
Que olhara e olhara
E depois se deu um fim,
Que tinha olhos castanhos
Que me olharam e olharam,
Que fizeram-me voltar
E que não pude encontrar,
Pois se fora! Ah... se fora!
A garota que me olhara
Que virara a mesma hora
Em que resolvi virar.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

CORRA AOS BRAÇOS DO AMADO

Corra ao conforto dos braços
Quais leitos que lhe protegem,
Sinta do amado a pele,
E a tua na dele, num laço.

Beija os lábios do amado,
Beba aos litros seu gosto,
Deixa que todo desgosto
Fuja ao tê-lo beijado.

Adora-o qual for permitido
Que o tempo se faz decrescente,
O tempo que resta é corrido.

Mas posso dizer convencido:
O bem que nele tu sentes
Em mim mais terias sentido.

NOIVA

É sempre tu quem estás comigo
Então contigo casarei.
Em ti me encontro
E me acompanhas sempre!
Contigo hei de casar.
Aliás, contigo
Sinto-me casado já:
Vejas tu, como se casa
Teu toque em meu rosto,
Teu beijo em minh’alma,
Vejas tu que combinação,
Que casamento do destino!
É sempre tu quem estás comigo,
Então contigo casarei.
É teu nome que me completa,
É teu nome que me faz!
Em ti meu peito repousa,
E no repouso derrama-se.
Ao derramar-se, encontra-se.
E em teu nome estou!
Hei de casar contigo,
Casar ainda mais,
Já que moras comigo,
Tristeza, minha noiva presente.

CÉU ESPELHADO

Céu espelhado
Nas poças do chão:
Lua, avião,
Nuvem não...

Só há nuvem
Do meu pensamento.

E meu pensamento
Espelhado no céu.
E todo o céu
Espelhado no chão.

EU VIVO

A minha essência é triste.
Quisera eu que tal essência
Não existisse.
Quisera eu, mas tal essência existe.
Sem a tristeza
– Essa tristeza
Que insiste –
O que seria
Minha essência?
Eu vivo triste...

ENCADERNADO

Quantos cadernos
Ainda terei?
Se escrevo o que sinto
E o que sinto
É quase sempre igual,
Então mil cadernos
Serão quase um só.
Sou eu mil cadernos,
Sou um caderno, apenas.
Qual a diferença?
Essa tão pobre leitura
Não é literatura.
Um ou mil cadernos,
Sou eu encadernado.

RESPOSTA EDIFICADA

– O que é concreto? – Fico quieto
Como um bloco de concreto.

A VIDA PEQUENA

A vida pequena...
Passando-se em passos
De anos correndo.
A vida pequena...
Semente, caroço,
Crescendo, morrendo.
A vida pequena...
O corpo, indivíduo,
Um breve suspiro,
O passar do tempo,
O passar da gente,
O passar dos passos.
A vida pequena...
Preciso senti-la
Em pequenos feitos
Que passam ligeiros,
Pois ela, a vida,
É pequena.

OBRA DE DESGOSTO

Poderia escrever
Várias folhas sobre meu desgosto,
Mas não o farei,
Pois não há tantas folhas no mundo.

RISO DO MUNDO

O mundo riu
Assim que o dia acordou.
O mundo riu
Um riso de quem se alegrou
O mundo riu
Pintando de azul o céu.
O mundo riu
Qual quem cumprisse seu papel.
O mundo riu
Deixando voar os pássaros.
O mundo riu
Sem que perdesse seu compasso.
O mundo riu
Fosse tal sexta ou segunda-feira.
O mundo riu
Sentindo que valia a pena.
O mundo riu
Com sossego de quem é feliz.
O mundo riu
Como se tivesse tudo o que quis.
O mundo riu
Com tal alegria que me parece rara.
O mundo riu
Deleitando-se em rir da minha cara.

CONCEPÇÃO DA PEÇA

Romance,
Delicadeza...
Se isso é tristeza
Entendo os tristes,
Pois são poetas.

A FEIÚRA DA POESIA

Nenhuma poesia lida é linda,
Pois as linhas, as rimas,
As poesias, não são bonitas.
O que transforma palavras em magia
São os sentimentos de quem, por sina,
Com as escritas se identifica.
São os sentimentos a maravilha,
Nunca a poesia.

SONETO SOBRE AUSÊNCIA E TEMPO QUE MUDAM A MULHER AMADA

Dela sinto mais ausência agora,
Mesmo agora estando ela presente,
Que na ausência dela à minha frente,
Quando estava em mim a toda hora,

Já que co’a distância era regada
Tola memória, cultivando tempos
Em que o amor tocara pensamentos.
E assim, dentro de mim, ela ficava.

Mas, surgida a peça qual não havia,
Voltando a se postar em minha vida,
Morrera então memória que atacava.

Faltou assim mistério que seguia.
Agor’há mais saudade dela – que ironia! –
Já que esta não é quem eu esperava.

O GRITO DE LIBERTAÇÃO QUE NÃO FOI DADO

Sou o recado
Do grito calado
Nos lábios cerrados.
Sou emoldurado
Na fauna da alma,
Sem calma, no trauma,
Com feras famintas
Olhando meu quadro
Em meu interior.
Um quadro parado
Pintado de horror
Cheirando carniça,
Serei a comida
Das feras contidas
Na alma em ardor.

Estou na mordaça,
Não importa o que faça,
Se há a desgraça
Não existe farsa
Que negue o que sou,
Já que, quando estou,
Eu viro tumulto,
Espalho fumaça
Que torna cinzento
O rubro do peito
Clamando respeito,
Tornando-me vulto
Que parte de um surto.
Sou grito e insulto
Querendo ser posto no exterior.

ASAS LUNARES

Um brilho surgiu atrás do prédio,
Logo uma ponta de Lua surgiu,
Mas exibido corpo do céu
Fez questão de se mostrar inteiro.
A Lua não parou de subir,
Saindo de trás do prédio,
Brilhando, olhando para mim.
Lua cheia me namorando
E eu namorando a Lua.
Nem o céu é o limite,
Pois ela está além do céu
E não para de subir.
A Lua tem asas potentes,
Assim como minha mente
Que jura ter visto e sentido
A Lua sorrir p’ra mim.

ROTINA DO OLHAR

A moça no meio-fio
Fotografando flores
Roubou meu olhar vazio
Que se encheu de cores,

De listras verdes, brancas
Que vêm do seu vestido,
De multicores tantas
Do canteiro florido.

A moça na Paulista,
Só, a fotografar,
Desfez de minha vista
A rotina do olhar.

PAZ

Veio o zumbido agudo
A ferir os ouvidos,
Logo o clarão.
Feio cogumelo
Radioativo,
Grande explosão.
Cenário triste
De um mundo ferido
Por devastação.
Morte da vida,
O mundo se livra
Da origem do mal.
Morre o planeta,
Toda violência
Chega ao final,
Pois em tal plano
Todo ser humano
Desprezível, em geral,
Some c’o mundo.
Humano imundo!
Há paz, afinal.

A FOME

A fome que me ataca
Não vem do estômago vazio
Ou de um prato ausente
Num dia de frio.
A fome que me ataca
Não fere o corpo,
Não esvazia um copo
Buscando deleite
Num copo de leite.
Essa fome não se sacia
Da boca p’ra dentro,
No garfo, na língua,
No teor da saliva.
A fome que tenho
Não vem da miséria
Que causa mazela,
Mal de nosso tempo.
É uma fome poética,
Oh, mente faminta!
Que reclama versos,
Tempero das linhas.
Tal culinária,
Alimento da alma,
Reclamo com fome
Em minha poesia.

POÉTICA ANTÍTESE

Odeio, oh! como odeio
Admirar tão adorável rosto!
Há fascínio nesse meu desgosto
Quant’é ameno o descontentamento.

Ameniza o olhar, sangra minha mente
Quando a vista me acaricia.
Essa luz que brilha e irradia
Queima ao tempo em que me é presente,

Pois a luz e treva se confundem
Se meus olhos buscam tua beleza.
São meus olhos noites de tristeza
Nos teus olhos, dias de alegria.

CASAMENTO

Queria beijar
Roberta Sá,
Mas já que não dá,
Me deixem sonhar!

QUIÇÁ BREVE ESTADIA

Uma doce brisa soprou a alma,
Logo semearam doces risos.
Onde a mente estava sem abrigo
Fez-se belamente uma pousada.

Lá descansa essa mente aflita,
Lá se faz brandura em tempestade.
Lá, das dores não tenho metade
Do qu’em outro canto então teria.

Entretanto essa estadia,
Que me acalma o peito e o envolve
De feliz acaso por tal sorte,
Tem conforto qual levado aos dias.

Quando, inevitável, corre o tempo,
Vai embora mais do meu conforto.
Mais um dia acaba, vira morto;
Conforto que havia vira vento.

O CÉU DE ANAÏS

Pouco antes do cinza vieram cores,
Pouco antes de perder o céu de vista.
Neste instante raro a qualquer dia
Estes olhos meus miravam dores.

Infeliz de mim, deixei p’ra trás
Tal relíquia feita pelo tempo,
Pois focava o descontentamento
Quando olhando acima havia paz.

Quem o céu olhou, tendo a pureza
De sentir n’olhar o que ocorria,
Levará p’ra sempre essa lembrança

De achar a paz na natureza,
Dando alívio à dor qu’então sentia
E, quiçá, focando a esperança.

ESSE GOSTAR QUE JÁ EXCEDE O ESPAÇO

Esse gostar que já excede
Em mim o espaço que o suporta,
Tanto transparece, tanto aflora
Que por fora há de se fazer presente.

Se me toma o peito, tão voraz,
E consome o que de mim seria,
Hoje consumido desta vida
Deixo que consuma quanto mais

Quando estou entregue sem saber direito
Onde exatamente cabem estes passos,
Mas triste seria caminhar tão calmo

Sem a graça do contentamento
De arriscar os pés pisando em falso
E não arriscar teu sentimento.

DEIXO A FELICIDADE PARA QUEM A TEM

Deixo a felicidade para quem a tem,
Pois não quero arrancá-la de ninguém,
Já que hoje eu não me sinto feliz
E demonstrar minha tristeza seria grosseiro.
Apenas engulo meu próprio pranto
E deixo a alma inundada, por bem,
Já que deixar esse pranto correr
Não trará o que tanto preciso.

Então guardo comigo a infelicidade,
Dou sorrisos para a vida que ri de mim,
Abraço o momento que me empurra
Na tentativa de ter um agrado qualquer.
Deixo a felicidade para quem a tem.
Choro sozinho. Oh, dor intensa...
E sofro sorrindo quando acompanhado
Para não mostrar dor onde todos estão bem.

VERSOS DE DESPEDIDA

Levarei comigo teus sorrisos
E este sentimento perpetuado
Que, quando longe de ser avistado,
Inda contigo possa senti-lo.

Levarei, porém, uma dor minha
Qual a saudade hoje já fere
Quando, sentindo a falta na pele,
Vejo-te longe num próximo dia.

A mais, levarei qualquer força,
Posto que lhe terei distante
E qualquer força se fará amiga.

Mas meu peito deixo. Não levo,
Pois não posso levá-lo adiante
Quando é mais teu esse peito que fica.

POESIA... É DE COMER?

Se me escrevessem uma poesia
Que feliz então seria!
Acontece que hoje em dia
Quem escreve ou aprecia?

O que é ode ou elegia?
Que são versos? Que são rimas?
Hoje o que o peito ensina
Não acata a poesia.

Que tristeza!

SONETO PARA AS CINZAS QUE RETORNAM

O dia nasceu sobre a beleza,
A beleza morta d’outro dia,
Sobre a dor passada, sobre as cinzas
Que hoje se dispersam com frieza.

Do passado levo inda o peito
Que sangrando posta-se valente
Mesmo quando tão convalescente
Do outrora doce sentimento.

Minha adoração é duro fardo.
Insiste em manter-se tão presente,
Já que mais desejo tal passado.

Nesta condição tão descontente
Vivo ontem, hoje fascinado,
Quando o ontem, hoje, vem à mente.

SONO

Sono.
De dormir só.
Só com o sono.
Sono só meu.
Sono sozinho,
Sono sem sonho,
Sonho perdido,
Sono... e só.
E se me deito,
Mesmo sozinho,
Penso em ti.
Nesse sentido
Deito-me só,
Durmo contigo.

FADADO A QUERER A PERDIÇÃO

Hei de perdurar-me neste tão fadado caso
Que nenhum acaso afastara este mal,
Quando longe crio esquecimento pelo qual
Finjo, onde há encanto, existir tolo descaso.

Que há sentimento demais já não se nega
‘Inda que quisesse não há farsa que oculta
Mil suspiros dados quais cousa alguma refuta,
Sangue admirado que meu peito descarrega.

Em minha condição perdida não me acho
Quando minha guia é admirada perdição
E só me encontro perdido em adoração.

Fadado a querer perder-me mais, fracasso,
Pois me encontro longe de me achar
Perdido, contentado, em teus braços.

MELANCÓLICA OBRA

Arte dramática,
Melancólica obra,
Prantos caligráficos,
Lacrimejam-se versos
Na secura dos dias.
Entristece algo,
Nascem desabafos
Tão vãos, à toa,
Como se Monalisa
Chorasse e seus olhos
Não mais vivessem.
Como se descobrissem
Que Picasso não é arte,
Apenas borrões aleatórios.
Como se Camões
Cuspisse nos sentimentos
E ignorasse o amor.
Mas não. Não isso.
Apenas sou eu
Escrevendo...
Escrevendo o quê?

A ESPERA

Deixa eu pensar na vida
Que se foi – inda se vai –
Que se não penso sumo,
Se sumo não sei ser eu.
Esse eu pensativo
Na vida que se esvai,
No passado que se foi.
Se penso, estou aqui,
Se aqui fico, agora,
Há agouro que não há
Se não penso e morro
Em momentos de silêncio
Do vão que acalma
E desespera o ser.
E o recheio,
O meio, o anseio,
Deixo que me surja
Nesse meio tempo
No que desconheço
Por ser interrogação
E aparecer exato
Quando penso e estou aqui
Esperando sem esperar.

O CANTO DO BEM-TE-VI

Pequenino bem-te-vi
Na antena do telhado,
Sozinho, eu o vi,
Cantava e gritava alto,

Chamava por mais alguém.
Bem-te-vi, pobre coitado,
Cansou-se de estar aquém
Sozinho, foi p’r’outro lado

Achar uma companhia.
Mas antes d’ele partir
Pude ouvir da sala minha
O canto d’outro bem-te-vi.

MAIS VERSOS SOBRE POMBOS

O pombo não gosta de concreto.
Coitado! É o que lhe resta.
Sua morada é a selva urbana.
Pássaro urbano? Faça o favor!
Agora mesmo eu vi
Na sacada de um apartamento
Cheio de plantas e vasos,
Samambaias e verde,
Um pombo feliz da vida
Por encontrar um recanto
No meio de tanto concreto
Que ainda contém um resto
Do que chamamos de natureza.

COBERTOR AMARELO

Estático mendigo
Em seu cobertor amarelo
Parou por alguns segundos.
O que olhava?
Agora sai sem rumo,
Sem ninguém por perto.
Somente um mendigo
Com seu cobertor amarelo.

SINTOMAS

Acredito que o amor
É o sentimento mais forte.
Penso que o respeito
É a chave de tudo.
Gostaria de um mundo
Sem desigualdades.
Coloco a amizade
Acima de qualquer coisa.
Acho o pacifismo
Um ideal lindo.
Gosto de sorrisos
Quando são sinceros.
Fico chateado
Quando há tristezas.
Busco as mudanças
Dentro de mim mesmo.
Faço o possível
Para melhorar.
Não sigo valores
Que só escravizam.
Gosto de sorrir
E fazer sorrisos.
Sei que tudo isso
Dizem que é bom.
Mas eu me pergunto
Frente a esse mundo:
Não seriam esses
Sintomas depressivos?

VERSOS QUE DIRIAM PESSIMISTAS

Oh! versos que diriam pessimistas,
Mas realistas, espelho meu,
Tela onde se pinta em letras
Vida de desventuras minhas.

Amargura que inibe rimas,
Tornando-se o poema um desabafo
Quase sem arte, um descaso
À arte verdadeira que respira.

Mas respira longe de mim,
Quiçá só hoje, que não sonho
E meu sonho está perdido.

Mas já não busco encontrar
Esse sonho que não sei sonhar,
Essa ilusão de lenitivo.

VÔMITO DA VIDA INTEIRA

Essas ruas chegam a enojar,
A causar uma grande ânsia,
Estômago fica embrulhado.
Eu tenho uma bela moradia,
Mas essas ruas nojentas
São a casa de muita gente.
Essas ruas chegam a enojar.
As pessoas dão ânsia de vômito,
Tudo dá asco e mal-estar.
Esse mundo é coletivo de lixo.
Se todos abrirem os olhos
Então o mundo terá um dilúvio
De vômito e pedaços de comida
Cheios de gula e gordura.
Dêem-me um saco para golfar
Toda essa besteira entalada,
Para cuspir os asquerosos sentidos.
Mas quero muito espaço,
Pois essa é uma vida inteira
Em que vomito a raiva,
O ódio e a falta de expectativas.

UMA SEMENTE CHAMADA ELEGIA

Paixão... ah, sentimento babaca!
Todo florido, doloroso, bonito,
Tudo é pranto e sorriso e suspiro,
Tudo é tolo! Paixão desgraçada!

Que sentimento mais idiota,
Faz do apaixonado submisso,
Faz dos segundos um labirinto
E do momento maldita cela.

Paixão... que coisa mais nojenta!
Fica-se bobo, pensando em vão.
Tudo é motivo para inspiração
E a inspiração não muda a cena,

Cena estúpida, tela de quadro:
Mente confusa, sangra um peito,
Coraçõezinhos todos vermelhos,
Um sofredor reclama um agrado.

Paixão... sentimento tão besta,
Peste que espalha, praga presente
Que propaga n’alma da gente
Febre, tontura, dor, doença.

Deplorável ficar nesse estado.
Longe de mim assim me encontrar.
Esse mal não deveria atacar.
Mas, céus, estou apaixonado!

POESIA PARA A VIDA IDIOTA

Estadia tola esses dias vividos.
Estúpidos sentidos e convicções,
Valores desvalorizados,
Moral imoral, tudo vão.
Atitudes duvidosas,
Hipocrisia não intencionada.
Para que integridade
Se só somos íntegros
Quando aceitamos o erro
Que nossa alma pede?
E tudo é tão estranho
Que essa poesia não tem forma.
Mas do que valem as formas
Se elas se moldam
De acordo com a vida?
E a vida é idiota!
Não sei de motivos,
Não sei de razões,
Não entendo de nexos.
Traí minhas idéias,
Desejo o que não deveria,
Insisto no doce erro,
Estou encantado.
Nada irá mudar,
Tudo continuará tolo,
Então tenho medo do quê?
Por que não viver
Sem qualquer compromisso,
Sem qualquer receio?
Não existe o que perder
E o que se ganha
Não guardamos para sempre.
Por que ter medo?
A vida é idiota.
Não ter medo de ser idiota,
Pois todos nós somos.
E meu coração bate
Por uma garota...

By: MaO

NARCISO, PARA QUE BELEZA?

De longe todos são belos.
Não há defeitos.
Não se vê falhas nos cabelos.
O que é feio?
De longe não temos rugas
Nem verrugas,
De longe rostos cansados
Não têm espinhas, nem cravos.
De longe os idosos têm pouca idade
E as crianças maturidade.
De longe todos são belos.
Bêbados parecem modelos,
O ridículo é ameno,
Grande passarela
Ruas tornam-se.
Pois de longe não há defeitos.
Sou deus grego,
Sou quase perfeito!
De longe somos felizes.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

UM VIOLÃO IMAGINÁRIO

Não há concerto.
Flores são belas apenas para mim,
Versos meus guardados no caderno,
Não há tristeza, tampouco algo feliz.
Quão mais busca-se novos risos
Mais tarda-se rir do vão agora
Que agora deveria ser vivido,
Mas deixamos isso ao amanhã.
E amanhã é sempre a mesma coisa,
Continuamos buscando risos.
Então foda-se!

O planeta ainda gira,
As folhas caem, tudo igual.
Passam-se estações,
Vivem-se emoções,
Tudo em vão.
Por que não viver, apenas?
É pena? Talvez.
Mas nesta condição
Não há p’r’onde correr
Nem o que fazer.
Então foda-se!

Choro e rio sem motivos
Ou por tolos motivos
Ou por motivos
Que aparecem sem motivos.
Nada faz sentido
E o que é sentido
Não se sente contente
E, normalmente,
Se contente, dura pouco.
Qual é a lógica?
Então foda-se!

Meus passos ainda duram
Sobre a dura vida
Que dura enquanto penso
Que não sei o que penso
Enquanto escrevo.
São escrituras
Que dizem sobre mim,
Mas não sei, enfim,
O que dizem, de fato,
Quando mesmo eu não entendo.
Então foda-se!

Isso porque
A vida é assim.
Deixo a poesia
Acontecer por si,
Vivo e apenas isso.
Simplesmente sem sentido,
Simplesmente sem nexo,
Simplesmente inútil,
Simplesmente fútil.
Não há concerto.
Simplesmente foda-se!

Eis uma canção
P’ra se tocar num violão.
Doces acordes de foda-se
Da imaginação.
Eis uma canção
P’ra se tocar no violão.
Com ou sem cordas,
Desafinando ou não.


By: MaO

MULTIDÕES

Multidões no centro
Aglomerados, curiosos,
Diversas rodas de entretenimento.
Olhos vagos, perdidos,
Pessoas sem compromisso
Se tumultuam na cidade
Em diversos cantos
Para olhar em bandos
As diversidades.
Todos sem nada melhor,
Sem perspectiva, direção,
Olhares vãos, e então
A cidade está parada,
Não é ação,
É distração.
Mas por que criticar
Essa gente indiscreta
Tão curiosa que nunca se aquieta
Se eu a olho daqui da janela?

By MaO

ÁRVORES NUAS

Deveria ter escrito
Sobre a sombra
Da árvore do vale
Quase sem folhas.
Não é outono.
A árvore despida
Do verde que falta.
Cores perdidas,
Versos achados,
Árvores nuas,
Ainda belas
Por serem puras.
Mesmo sem folhas
Têm a leveza
De serem belas
Por ser natureza.

By: MaO

CALMARIA

Poesia, deusa minha,
Tire o desgosto de agosto.
Traga encanto, sopre o pranto,
Esteja viva, oh, Poesia!

Que minh’alma pede calma
E meus dias alegrias.
Tire o trauma, lave a alma.
És bem vinda, oh, Poesia!


By: Mao

ECLIPSE DE AGOSTO

Vocês viram o eclipse?
Estava lá no alto,
No céu limpo, claro
O eclipse da noite.
Miúdos humanos
Deixando de lado
O céu, que em agrado
Presente nos trouxe.
Para quê? Diga-me!
Passos vazios,
Olhares vadios
Fitando um presente,
Talvez indecente,
Não olham p’ra cima.
O céu, nessa sina,
Se faz descontente.
Talvez ele tente
Nalgum’outra hora,
Trazer noutro agora
Um outro presente.
O que a noite deu,
O brilho no breu
Que era p’ra todos,
Senti ser só meu.




By: Mao

TANTAS COISAS EM POUCOS VERSOS

Engolindo o lixo capital,
Entupindo-se de comercial,
Desnutrindo a mente adoecida
Não há vitaminas capitalistas,
Mas suplementos não eficazes
Que iludem e te enchem de esperanças.
Esperanças vendidas em caixas
Pequenas, médias, grandes,
Leve três, pague dois.
Iluda-se no discurso de felicidade.
A felicidade é passada na novela,
Nos cafés com mesas fartas
E poder de fácil acesso.
É tudo embelezado, disfarçado
Para atrair sua atenção.
Sensacionalismo faz freguês.
Um, dois, três... o número cresce.
Essa é a sua vida de rei:
Uma tela de televisão, um emprego,
Um patrão, talvez um filho
Que quer um Max Steel
Ou uma linda filhinha que sonha em ser Barbie.
Gisele Bündchen é referência,
Bill Gates é símbolo de sucesso,
Você é apenas a sobra
Dos sonhos que eles realizaram.
Você é apenas a sobra
Que não importa ao império.
Você é a sobra vivendo de sobras.
Enquanto isso, na ingenuidade
De buscar uma vida feliz,
Aliás, buscar a felicidade midiática,
A felicidade elitista e excludente,
A felicidade que arrasa os desfavorecidos,
Enquanto busca essa felicidade,
A vida continua em seu ciclo
Gerado pela ganância, pela estupidez.
Mas eles nunca dirão por que são a elite,
Nunca mostrarão como se mantêm no alto,
Afinal, eles te dão entretenimento barato,
Te fazem de palhaço, de otário,
O bobo da corte, o bobo da elite,
O bobo do capital, o povo,
O populacho, a escória.
Você mantém eles no poder
Através do comodismo,
Através da poltrona,
Através do sonho de estar no lugar deles.
Quem tem dinheiro controla,
Compra, negocia a sua vida,
Brinca com o mundo.
Não importa o amanhã,
Pois o amanhã não é deles,
É de quem ficar pra ver
O quão devastado eles deixaram o mundo.
Você não percebe? Você não vê?
Eles te dominam com cultura inútil,
Descultura, te fazem ter sonhos
E fazem você acreditar
Que precisa seguir padrões
Para alcançar aquilo
Que fingem que só eles podem dar.
MAS É MENTIRA!
Sua mente se torna mais sadia
No compasso em que pensa por si,
Seu aspecto é mais verdadeiro
Quando reflete sua alma.
Esqueça as etiquetas,
Sua roupa é só pano,
Seu dinheiro é só papel,
Sua agonia é impressão,
A impressão que o elitismo deixou.
ENTÃO ESQUEÇA!
Esqueça a bandeira hasteada,
Esqueça a pátria, esqueça tudo!
Seu mundo é livre, é NOSSO mundo.
A bandeira já não pode te prender,
A algema não tem significado
Pois não mais poderá reprimir
Aqueles que não tiveram oportunidades.
Pense por você, pense no mundo,
Na liberdade, na igualdade,
Na solidariedade, na união,
Na sociedade igualitária,
No emprego digno e agradável
Sem mais exploração.
Pense! Abra os olhos!
O mundo continua, a vida segue
E você não pode ser apenas
Mais uma ovelha obediente
Que faz o que o pastor manda
Sem saber por que fazer.
Você não pode ser apenas
Mais um meio por qual eles reinam.
Você não pode ser apenas mais um.
Seja ameaça, seja real,
Seja verdadeiro, seja corajoso.
É hora de negar o império elitista,
É hora de repudiar a injustiça,
É hora de acordar!
Se somos iguais e livres,
Deverá demolir esta construção,
Este forte repressor, esta cela,
Esta prisão chamada capitalismo.



By: Mao